Seca no Algarve. Há já populações a depender de autotanques
01-12-2019 - 12:16
 • Lusa

Novembro trouxe alguma chuva, mas não foi suficiente. Castro Marim é dos concelhos mais afetados. Barragens do Beliche e de Odeleite pouco ajudam.

A seca que assola o nordeste algarvio está a obrigar populações do interior de Castro Marim a depender de autotanques para ter água potável, já que a chuva não tem sido suficiente para repor as reservas subterrâneas.

Funchosa de Cima, uma pequena povoação situada quase no limite norte daquele concelho do distrito de Faro, ainda recebe a visita do camião cisterna da Câmara, duas a três vezes por semana, situação que se mantém desde o início do verão, mesmo apesar de novembro já ter trazido consigo alguma chuva.

Situada a 27 quilómetros de Castro Marim, esta é uma das 32 localidades que vai passar a ser abastecida pela água das barragens que há anos estão ali tão perto, mas que ainda não chegou às torneiras, fazendo com que os habitantes dependam de furos para captar a água dos solos e, agora, dos camiões cisterna.

“O furo funciona, mas já tem pouca água. Temos de ir ao tanque com água da rede. Estamos à espera que eles acabem a obra, vamos lá ver” desabafa à Lusa Manuel Lourenço, enquanto espera pela conclusão dos trabalhos que hão de trazer-lhe a tão esperada água canalizada.

As valas com os tubos estão quase à porta da sua casa, mas os anos que esperou por esta realidade não o deixam esboçar um sorriso de esperança.

Um dos autotanques tem capacidade para 1.500 litros de água e passa de três em três dias.

“Eles enchem o tanque e, para casa, temos de acartar com os baldes”, revela José Amaro, idoso, apontando para a porta da sua habitação, situada a uns 20 metros do reservatório, numa subida.

A pouco quilómetros foram construídas, há 25 anos, as barragens do Beliche e de Odeleite, que passaram a garantir o abastecimento de água a quase metade do Algarve, no entanto, “pouco ou nada” trouxeram a estes territórios, lamenta a vice-presidente da Câmara de Castro Marim.

“É um benefício para toda a região, mas cabe ao município conseguir as verbas para garantir o abastecimento às populações, que há anos olham para estas bacias sem delas poderem usufruir”, afirma Filomena Sintra, lamentando que não haja mais investimento em novas estruturas para a retenção de água.

Um plano da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) faz referência à construção de duas novas barragens no Algarve, segundo a autarca, uma delas estudada há “20 anos” e que poderia “aumentar em 15%” a capacidade de fornecimento de água ao Algarve, mas “nunca foi inscrita uma linha” para esse investimento.