​Depois do cântico racista, Enzo foi capitão no Chelsea. E o treinador explicou porquê
19-08-2024 - 11:00
 • Hugo Tavares da Silva

Do "racismo desinibido" num autocarro à responsabilidade de ser capitão de um dos maiores clubes de Inglaterra. "Se fazes um erro e o reconheces, não vais ser castigado a tua vida inteira."

Tudo aconteceu numa viagem de autocarro da seleção argentina, depois do triunfo na final da Copa América. Enzo Fernández, futebolista do Chelsea, foi o autor do ‘direto’ no Instagram que expôs o cântico racista contra os franceses.

Para além de Amélie Oudéa-Castéra, ministra do Desporto francesa, e a Federação terem pedido à FIFA para investigar o caso, alguns colegas de Enzo e futebolistas noutras latitudes reagiram.

“O futebol em 2024: racismo desinibido”, escreveu Wesley Fofana nas redes sociais. O médio argentino pediu desculpa, o clube abriu um inquérito interno. O caos no Chelsea, com mudanças na propriedade e a contratação de inúmeros futebolistas, ganhava outra camada.

Puxando a fita à frente, mais exatamente ao início da Premier League, o Chelsea recebeu o tetracampeão Manchester City, no Stamford Bridge, no domingo. Os ‘blues’ perderam por 2-0, com Haaland a fazer o 91.º golo em 100 jogos pelos 'cityzens', mas uma das histórias morou na braçadeira de Enzo Fernández.

No final do jogo, Enzo Maresca, o treinador que fez do Leicester campeão do Championship, respondeu à pergunta que era obrigatória: por que razão Fernández foi o capitão depois daquele episódio?

“Eu penso que o Enzo é um dos capitães desta equipa. Não é o único. Temos o Reece [James], temos mais capitães aqui. Eu vejo que os companheiros do Enzo o reconhecem como uma referência, como um capitão. Ele já tinha sido capitão na pré-época, quando retirámos o Reece durante um jogo…”, deu troco Maresca, um ex-futebolista.

E acrescentou: “Todos nós erramos. É importante reconhecê-lo. O Enzo errou, ele reconheceu o erro e acabou. Não é importante”.

O treinador italiano, ex-adjunto de Pep Guardiola, foi ainda questionado sobre a mensagem que é passada ao dar a braçadeira a um jogador que teve um episódio daquela natureza.

“Não sei em relação a si, mas eu errei no passado e reconheci-o”, continuou. “E eu penso que, como ser humano, se fazes um erro e o reconheces, não vais ser castigado a tua vida inteira. (...) Para mim, ele é uma das referências e não há mais nada a dizer.”

Tem havido algumas críticas à decisão de Maresca, como por exemplo o artigo de opinião de Miguel Delaney no "The Independent", onde refere que essa decisão foi "desastrada" e "errada". No fundo, defende Delaney, o chefe de secção de desporto daquele diário inglês, "trata-se simplesmente de não dar seguimento a uma polémica com um cargo tão prestigiado, que é um símbolo do clube".

O jornalista lembra ainda o momento em que, antes do jogo, Enzo Fernández se ajoelha, como os colegas, num gesto já tradicional contra o racismo.

O Chelsea tem vários outros casos para resolver, como a dimensão surreal do plantel e o aparente afastamento de Raheem Sterling, não convocado para a receção ao City, que motivou um comunicado dos representantes do futebolistas, pedindo mais “clareza”.