Merkel rejeita responsabilidades pela dependência energética do Ocidente face à Rússia
08-06-2022 - 08:49
 • Olímpia Mairos

A ex-chanceler alemã refuta as acusações de que foi ingénua, ao acreditar que a Rússia poderia mudar através das relações comerciais com o Ocidente, afirmando nunca ter tido “ilusões”, mas que não poderia agir como se um país vizinho “não existisse”.

A ex-chanceler alemã disse ser inaceitável a guerra na Ucrânia e um grande erro de Moscovo. Nestas declarações, Angela Merkel, de 67 anos, rejeitou responsabilidades pela dependência criada pela Alemanha com a Rússia no mercado energético.

Durante uma palestra em Berlim, organizada pela Editora Aufbau, a antiga chefe do Governo alemão admite que as sanções dos EUA à construção do gasoduto Nord Stream 2 causaram-lhe “incómodo”, considerando que era algo que se “fazia com um país como o Irão, mas não com um aliado”, mas elogiou a iniciativa do Presidente Joe Biden para ‘enterrar’ a questão em 2021.

Quanto à guerra, Merkel diz que o Kremlin cometeu um “erro catastrófico” com a invasão da Ucrânia, que descreve como “um ataque brutal, que desrespeita o direito internacional e não tem desculpa”.

Nesta primeira entrevista desde que abandonou o cargo, a antiga chanceler afirma que se esforçou muito quando estava no cargo para evitar que a situação na Ucrânia chegasse à situação atual. “É uma grande tristeza que não tenha dado certo, mas não me culpo por não tentar", disse Merkel, aludindo ao acordo de 2014 de Minsk com a Rússia.

Refuta ainda as acusações de que foi ingénua, ao acreditar que a Rússia poderia mudar através das relações comerciais com o Ocidente, afirmando nunca ter tido “ilusões”, mas que não poderia agir como se um país vizinho “não existisse”.

A ex-chanceler sublinhou que já sabia na altura que Putin “queria destruir a Europa”, mas que antes de entrar em conflito aberto era preciso “tentar tudo diplomaticamente”.

Merkel resumiu a sua política em relação ao Kremlin com a tentativa de “encontrar um ‘modus vivendi’ [modo de viver] onde não se estivesse em guerra e tentasse coexistir apesar das diferenças”.

Já quanto à sua decisão de não permitir a adesão da Ucrânia à NATO, em 2008, Merkel continua a defender que o veto foi essencial, argumentando que, de outra maneira, “Putin faria algo que não seria bom para a Ucrânia”. Por isso, continua convencida que esta posição permitiu travar a escalada de tensão e deu tempo a Kiev para crescer como país.

“Aquela não era a Ucrânia de hoje em dia. O país não era estável, estavam embrulhados em corrupção”, defendeu.