Não vou ter saudades
02-11-2018 - 08:10

Não vou ter saudades da senhora Merkel nem das suas políticas.

Ao anunciar a sua saída em 2021 – o que praticamente equivale a sair já, uma vez que um primeiro-ministro a prazo deixa de ter capacidade de liderança – a senhora Merkel concitou um coro de elogios ao qual não me associo.

Já sabemos que o acelerar da nossa percepção da realidade, a memória passou a ser curta. Mas tão curta assim?

A senhora Merkel foi a primeira responsável pela forma desastrada como a zona euro reagiu à crise de 2008, forçando a destruição de uma boa parte das economias dos estados menos competitivos – destruição da qual esse estados ainda hoje não se recompuseram.

Foi a principal responsável pela aprovação de regras de funcionamento da zona euro impossíveis de cumprir pelas economias mais débeis e que condicionam fortemente o seu futuro, sem esperança de melhoria. Foi a grande responsável pela criação dum enquadramento jurídico da zona euro feito à medida dos interesses alemães e que permite, por exemplo que a Alemanha continue a gerar saldos positivos monstruosos na sua balança de pagamentos sem qualquer atenção pelos interesses gerais da zona euro que, contudo sempre invocou quando se tratou de impor políticas restritivas aos estados em maiores dificuldades. Foi, finalmente a responsável directa pela clivagem Norte-Sul que hoje atravessa a Europa.

E, como português, não me posso esquecer que foi chanceler de um ministro das finanças que humilhou reiteradamente o nosso país.

Note-se que não estou a afirmar que a senhora Merkel fez mal. Limitou-se a defender os interesses do seu País. Mas para Portugal as suas políticas foram desastrosas. Transformá-la numa heroína europeia é positivamente surrealista. Não definitivamente, não vou ter saudades da senhora Merkel.