“As pessoas têm de perceber que estamos todos no mesmo barco”
10-04-2020 - 06:20
 • Filipe d'Avillez Joel Sahotra

No Paquistão, a pandemia de coronavírus é um desafio para todos, mas algumas minorias sofrem de forma especial, pois até na ajuda são discriminados. Para os cristãos, vai valendo a solidariedade entre os membros da comunidade.

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Estamos a viver tempos difíceis em todo o mundo. Sente-se o medo e a tensão em todo o lado. Aqui no Paquistão é a mesma coisa. Os media e o Governo estão a tentar convencer as pessoas a ficar em casa. A quarentena voluntária é a medida mais importante para nos mantermos seguros, e também estamos a tentar adotar algumas medidas de precaução.

Como sabem, o Paquistão é um país do terceiro mundo, aqui a situação e os problemas são maiores, e diferentes do que na Europa.

O mais importante é que mais de 25% da população vive abaixo a linha da pobreza. A classe média também sofre com a recessão e falta de recursos económicos. Na maioria as pessoas têm pouca educação e não estão prontas para compreender as notícias mais graves sobre o coronavírus.

As pessoas que costumavam trabalhar ao dia estão mesmo numa situação terrível.

Num mundo em que nem o Ocidente nem os Estados Unidos têm planos concretos para sair desta situação, podemos compreender como é duro para os países cuja economia está em baixo e que dependem das políticas cruéis do FMI e do Banco Mundial.

A falta de medicamentos e até a escassez de máscaras e de ventiladores são um grande problema no nosso país.

As pessoas estão a tentar ajudar-se umas às outras, comprando comida e outros bens para os mais pobres, mas mesmo assim não chega.

Uma coisa terrível é que mesmo nestes dias negros, algumas organizações muçulmanas não estão dispostas a ajudar os membros das minorias religiosas. A organização SALANI, que fornece comida aos mais pobres no Paquistão, está a recusar dar alimentos a cristãos e hindus em Karachi. As pessoas têm de perceber que estamos todos no mesmo barco, temos de nos ajudar por razões humanitárias, e não religiosas.

Da nossa parte, temos estado a distribuir comida aos necessitados e a tentar convencer as pessoas a ficar em casa para salvar as suas vidas.

Aproveito para pedir a quem possa fazer donativos para ajudar as famílias necessitadas que sejam generosos.

Os cristãos no Paquistão são uma pequeníssima minoria, menos de 2%, e na maioria trabalham nas áreas de limpeza, por isso enfrentam problemas mais graves. São verdadeiramente os mais vulneráveis da nossa sociedade e precisam da vossa ajuda e atenção.

Que Deus tenha misericórdia no nosso mundo.


*Joel Sahotra nasceu no Paquistão e vive e Karachi, uma das principais cidades do país. Político e membro ativo da pequena minoria cristã, desenvolve muitas atividades para ajudar os seus correligionários e chamar atenção para as injustiças de que são alvo.