Que futuro?
05-04-2019 - 06:25

O grande erro do programa foi tentar equilibrar simultaneamente as finanças públicas e as contas externas de uma forma excessivamente ambiciosa, sem dispor de instrumentos para isso, baseando-se em projecções irrealistas e impondo um custo social incomportável.

Enquanto a questão do Brexit permanece indeterminada no momento em que escrevo, penso que vale a pena chamar a atenção para duas questões importantes que foram levantadas numa entrevista recentemente dada ao Público por Poul Thomsen.

Poul Thomsen, convém recordar, é economista do FMI e foi um membro destacado da Troika, que delineou o chamado programa de assistência económica e financeira a Portugal.

As questões a que me refiro não têm a ver com o passado, ou seja, com o programa. Do meu ponto de vista, o programa foi tecnicamente mal elaborado e nada do que Thomsen diz na entrevista contraria esta minha opinião. O grande erro do programa foi tentar equilibrar simultaneamente as finanças públicas e as contas externas de uma forma excessivamente ambiciosa, sem dispor de instrumentos para isso, baseando-se em projecções irrealistas e impondo um custo social incomportável.

Mais necessário é pensar no futuro. As duas afirmações importantes que constam da entrevista são, a primeira, a opinião de Thomsen de que Portugal não deve esperar grande coisa de uma reforma da zona euro no caso de sofrer outro choque como o que induziu a crise de 2008 e a segunda, que fazer programas de ajustamento sem dispor da desvalorização cambial é muito mais difícil e penalizador.

Estou inteiramente de acordo com estas duas afirmações.

E, por isso, ponho de novo a questão básica do nosso futuro: se nada de fundamental haverá neste particular a esperar dum reforma da zona euro, e tendo em conta os nossos níveis brutais de endividamento, tanto público como externo, o que nos sucederá quando se verificar uma nova crise financeira internacional?