Pastoral Familiar procura melhor integração de pessoas em “situação irregular"
23-10-2016 - 17:20
 • Paula Costa Dias

Embora para alguns a ideia de integração seja difícil, há já exemplos positivos. A Renascença mostra o exemplo de Alexandra Silva, que está num segundo casamento.

Sete meses depois de ter sido publicada, a exortação apostólica “A alegria do Amor” serviu de pano de fundo às Jornadas Nacionais da Pastoral Familiar, que se realizaram neste fim-de-semana em Fátima e que juntaram um número recorde de participantes, praticamente 400, oriundos de quase todas as dioceses do país.

Religiosos e leigos aprofundaram as ideias defendidas pelo Papa Francisco e adiantaram pistas para alcançar a tão desejada integração na Igreja das pessoas em situação irregular. Pede-se não só uma maior preparação dos noivos mas também um maior acompanhamento aos casados e sobretudo aos que estão a viver ou viveram uma separação ou divórcio.

Embora para alguns a ideia de integração seja difícil, há já exemplos positivos. É o caso de Alexandra Silva. Casada durante 13 anos, divorciou-se e, há cerca de três anos, apostou num segundo casamento. Para esta ex-catequista, o acompanhamento que o pároco lhe proporcionou foi determinante para que continuasse ligada à Igreja. Convidada a dar o seu testemunho nas jornadas da pastoral familiar, Alexandra Silva contou à Renascença que nunca teve “essa sensação do apontar o dedo, das pessoas me olharem, de comentarem”. Porque os divorciados não podiam, na altura, comungar, a jovem deixou de o fazer por uma questão de respeito. No entanto, retomou e actualmente, com o marido Manuel Alves, “colocamo-nos na fila e vamos, nunca nos foi recusado”. Para essa mudança de atitude foi determinante “o apoio que o pároco nos tem dado”. Actualmente faz parte da equipa da pastoral da saúde e do grupo de Casais, da paróquia de Vilar do Paraíso, Vila Nova de Gaia.

Um exemplo da integração que o Papa Francisco preconiza na exortação “A Alegria do Amor”. Um documento que manifesta um progresso doutrinal ao abrir a possibilidade aos recasados de participarem nos sacramentos, salienta o cónego Arnaldo de Pinho. O director do Centro de Estudos do Pensamento Português, da Universidade Católica, diz que se trata de uma exortação sinodal “que não põe limites à integração, por exemplo, no acesso aos sacramentos, ao passo que a Familiaris Consortio taxativamente dizia que não podiam ser integradas na comunhão”. Para Arnaldo de Pinho, “em linguagem técnica, é um progresso doutrinal”.

Uma mudança de mentalidades que tarda a dar frutos, não só por falta de informação relativamente à proposta do Papa, dizem alguns, mas também pela falta de tempo de muitos padres. Por isso, o padre Luís Baeta, de Cabeceiras de Basto, Braga, acha que esta “devia ser uma prioridade” para a Igreja portuguesa. Para que “com o passar dos anos não acabemos por perder pessoas importantíssimas na comunidade”.

A todos cabe a responsabilidade de procurarem mais informação sobre a proposta do Papa, defende o presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, que vai levar o assunto à próxima assembleia plenária. D. Antonino Dias salienta que “ninguém pode dizer que não tem informação porque o documento está mais que divulgado e quem quiser pode adquiri-lo”.

Nestas jornadas ficou também patente a necessidade não só de se apostar mais na preparação dos noivos à luz da exortação apostólica como também na criação, em todas as dioceses, de equipas multidisciplinares para acompanharem os católicos em situação irregular.