A velocidade e o questionamento do lugar do corpo na contemporaneidade foram conceitos em que o programador John Romão se focou para encenar “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, que se estreia esta sexta-feira, no Teatro Nacional D. Maria II.
“Trabalhar Shakespeare de uma forma muito generalista é quase impossível”, disse o encenador aos jornalistas, no final de um ensaio de imprensa da peça, justificando a opção tomada para pôr em palco esta obra de O Bardo.
Cinco personagens suspensas, cada uma assente numa plataforma, em que juntas formam um círculo que vai girando, marcam o cenário desta versão de John Romão da tragédia mais conhecida de Shakespeare (1564-1616), a partir da tradução de Filomena Vasconcelos.
Para John Romão, a suspensão dos corpos de Romeu, Julieta, Benvólio, Mercúcio e Teobaldo está associada também a uma ideia de “nomadismo”, que caracteriza os dias de hoje.
“Somos um corpo cada vez mais amplo e comunicativo e omnipresente, ou seja, com qualidades que antes pertenciam apenas aos deuses e que hoje parecem estar a ser absorvidas pelo ser humano”, frisou.
Nesta versão de John Romão sobre a tragédia que assola as famílias Montecchio e Capuleto, os corpos das cinco personagens estão aparentemente imóveis, mas, para o encenador, “estão num apogeu de velocidade”.
A “nossa tendência é sempre a de caminhar mais rápido, mais rápido, mais rápido; é uma aceleração do tempo e do corpo, que à distância dá a sensação de não se sair do mesmo sítio”.
“Essa inércia da velocidade, no espetáculo, quase se confunde com imobilidade”, referiu.
A não existência de toque entre as personagens é outra das características desta encenação. Nem um beijo se consolida de forma física nesta tragédia. Porque “também muitas das nossas relações, hoje, são consolidadas à distância”, argumentou Romão.
A peça acaba com as personagens no mesmo sítio em que se encontravam no início, porque o lugar onde Romeu e Julieta se encontram não existe nem tem nome, por isso a solução para eles é a morte, explicou John Romão.
“A morte é o desconhecido, não tem nome”, e essa “utopia de um encontro para consolidar esse amor que não pode ter lugar”, acaba por ser uma “incógnita contínua”.
Em cena na sala Garrett até 1 de março, a peça pode ser vista às quartas-feiras e sábados, às 19h00, às quintas e sextas-feiras, às 21h00, e, aos domingos, às 16h00.
No dia 23 há sessão em língua gestual portuguesa e uma conversa com artistas no final do espetáculo. A sessão de 1 de março tem áudio-descrição.