"Alto e pára o baile". O acento do "para" e outras alterações ao acordo ortográfico chegam à AR
07-02-2017 - 14:08
 • Pedro Mesquita

O presidente da Academia das Ciências é ouvido na comissão de Cultura. O “Movimento de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico de 1990” contesta as propostas e pede mais: desvinculação imediata do acordo.

O acordo ortográfico regressa na tarde desta terça-feira à Assembleia da República pela voz do presidente da Academia das Ciências, Artur Anselmo.

Entre os pontos em análise na comissão parlamentar de Cultura, estão as sugestões para o aperfeiçoamento do acordo aprovadas pelos membros da Academia a 26 de Janeiro.

Artur Anselmo diz à Renascença que se pretende alterar "tudo aquilo que fere a inteligência e o senso comum" e dá exemplo: "'Alto e pára o baile' ou 'alto e para o baile?' Se lhe tirar o acento no 'pára', o significado é diferente, não é? Tudo o que é incongruente deve ser melhorado. É o que a Academia está a fazer: a tentar melhorar."

As propostas da Academia de Ciências são contestadas pelo “Movimento de Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico de 1990”. Contactado pela Renascença, Ivo Miguel Barroso, membro deste movimento, diz que as alterações propostas não passam de "remendos".

Barroso lembra que está em curso uma petição para que Portugal, pura e simplesmente, se desvincule do acordo ortográfico: "Já tem mais de 15 mil assinaturas. Foi subscrita por 188 figuras públicas, como António Lobo Antunes, Eduardo Lourenço, António Arnaut, Bagão Félix ou António Barreto."

Além de discordar das propostas da Academia de Ciências, Ivo Barroso argumenta que as sugestões aprovadas são legalmente nulas: "O órgão tem 68 membros e, segundo a Constituição, deveriam ter estado presentes na reunião mais de metade dos membros da Academia das Ciências e só estiveram presentes 23. Logo, a deliberação é juridicamente inexistente."

Artur Anselmo contesta. Diz o presidente da Academia de Ciências de Lisboa que "não tinha que haver quórum" e que o aprovado "é uma sugestão, não é uma deliberação".

"Basta consultar um dicionário da língua portuguesa na palavra 'sugestão'. Nunca se pôs o problema do quórum nos plenários de efectivos da Academia das Ciências. A idade média dos académicos, neste momento, é superior a 70 anos. Haja consideração pela saúde das pessoas. Vou contar os académicos que vêm às reuniões? Não lembra ao diabo", desabafa.