O Supremo Tribunal da Pensilvânia decidiu anular a sentença que condenou Bill Cosby a 10 anos de prisão por agressão sexual e as reações de choque não se fizeram esperar.
A decisão, conhecida na quarta-feira, dia 30 de junho, “não é apenas dececionante, mas também preocupante, pois pode desencorajar aqueles que buscam a justiça no sistema criminal de denunciar ou participar do processo contra o agressor”, reagiu a família de Andrea Constand, a antiga basquetebolista que o ator drogou e molestou enquanto ela estava inconsciente.
Bill Cosby tem outra perspetiva. Tudo o que aconteceu foi com consentimento, garante.
“Eu não sou culpado”, afirmou à CNN na quarta-feira. Na rede social Twitter, acrescentou: “Nunca mudei a minha postura nem a minha história. Sempre mantive minha inocência”.
Bill Cosby tornou-se popular em séries de televisão de comédia, sobretudo aquela que tinha o seu nome, “The Cosby Show”, nos anos 1980.
Na sequência do movimento #MeToo, dezenas de mulheres vieram a público acusar o ator de agressão sexual, mas apenas Andrea Constand seguiu judicialmente com o caso, levando à condenação de Cosby em 2018.
Agora, o tribunal veio dizer que houve uma “violação do processo” e, por isso, o ator tinha de ser libertado. Um acordo feito pelos advogados de Bill Cosby e um promotor estadual terá na origem dessa violação processual.
Os juízes admitiram, contudo, que esta era uma decisão pouco comum.
Revolta e “um nó no estômago”
As reações não se fizeram esperar. “Estou atordoada, estou chocada e meu estômago dá um nó”, afirmou à WPVI-TV Janice Baker-Kinney, que acusou o ator de lhe dar comprimidos e violá-la depois.
Amber Tamblyn, atriz e ativista, escreveu no Twitter: "Estou furiosa com esta notícia. Conheço pessoalmente mulheres que este homem drogou e violou enquanto estavam inconscientes. Que vergonha para o tribunal esta decisão”.
Patricia Leary Steuer, uma das acusou Cosby de violação e agressão sexual, questiona-se sobre o propósito de “43 anos desta provação e do trauma que eu e a minha família suportámos”.
Esta decisão “desencoraja qualquer vítima de agressão sexual” de falar, defendeu na CNN.
“É por isso que as mulheres não se manifestam”, concordou a colunista E. Jean Carroll, que também acusou o ex-Presidente dos Estados Unidos Donald Trump de agressão sexual.
“Isto é revoltante. O meu coração está com as minhas ‘irmãs’ sobreviventes. Temos trabalho a fazer”, depois desta decisão “horrível”, escreveu no Twitter a atriz Debra Messing.
Caminho a fazer na justiça
Anita Hill, presidente da Comissão de Hollywood, que trabalha para impedir o abuso na indústria do entretenimento, reagiu à decisão do tribunal considerando que só “demonstra como as falhas nos nossos sistemas de justiça criminal tornam impossível a responsabilização por agressão sexual”.
“A agressão sexual, o assédio e a extorsão acontecem nos locais de trabalho todos os dias. Sistemas que garantem a responsabilização por abusadores poderosos, protegem os trabalhadores e evitam acordos que protegem os abusadores são urgentemente necessários no entretenimento e em outras indústrias”, apelou num comunicado.