​O exército europeu
15-11-2018 - 06:17

A ideia de um exército europeu, referida por Macron, suscitou contraditórias reações. Mas Angela Merkel colocou a questão no plano certo.

Na celebração, em Paris, do centenário do armistício da Grande Guerra, o presidente Macron falou da necessidade de criar “um verdadeiro exército europeu”. E justificou: “devemos proteger-nos da China, da Rússia e mesmo dos Estados Unidos”.

Não foi propriamente uma afirmação diplomática. Trump considerou-a “um insulto”, esquecendo-se de que tinha sido ele próprio quem criou dúvidas sobre a NATO e a disposição de Washington em cumprir o célebre art.º 5º do tratado da Aliança Atlântica: um ataque a um membro da NATO é automaticamente considerado a um ataque a todos os outros. Se pagarem mais para a NATO, insinuou Trump…

Aliás, os antecessores de Trump insistiram inúmeras vezes com os seus aliados da NATO para que partilhassem mais os custos da Aliança. Os países europeus nunca corresponderam em escala significativa a este apelo. Agora que Trump, com alguma razão, usou um tom mais ameaçador naquela exigência, os aliados dos EUA têm que levar a sério o imperativo de deixarem de viver à sombra da proteção militar americana, aumentando os seus gastos com a defesa.

Por outro lado, sempre que no passado se esboçou alguma possibilidade de intensificar a defesa militar europeia, logo surgiam preocupações da parte americana e também britânica: cuidado que estão a destruir a NATO! A malcriada reação de Trump também reflete, em parte, essa contradição.

Foi preciso Merkel, num importante discurso perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na terça-feira, vir colocar a questão no plano sensato. A chanceler defendeu a importância de uma força militar europeia, mas esclareceu: “obviamente que nunca seria um exército rival da NATO, mas um bom complemento à Aliança Atlântica”. E Merkel mostrou-se realista ao lembrar que “os tempos em que podíamos confiar uns nos outros acabaram. Isto significa que nós, europeus, temos de tomar o nosso destino unicamente nas nossas mãos”.

Para Merkel a ideia de um exército europeu é um “projeto visionário”, tal como foram a moeda única e o espaço Schengen. Por isso, acentuou a chanceler alemã, “continuaremos a trabalhar na visão de um dia termos um autêntico exército europeu”.

Até lá, convinha que os europeus dessem passos para, além do mais, “comprarem europeu” em equipamentos militares sempre que possível. O exagero da posição de Macron estará provavelmente ligado ao facto de, há duas semanas, a Bélgica ter preferido comprar aviões de combate F-35, americanos, em vez de adquirir os Rafale franceses.

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