Drama no Mediterrâneo. Várias cidades italianas desafiam Governo e aceitam barco com migrantes
11-06-2018 - 08:44

A bordo estão 629 pessoas, entre as quais se contam 123 menores e sete grávidas. Plataforma de Apoio aos Refugiados lembra a pirâmide dos valores.

Várias cidades do Sul de Itália estão a desafiar o Governo e dizem estar prontas para receber o "Aquarius", um navio à deriva no Mediterrâneo com 629 migrantes a bordo. O ministro do Interior fez saber que Roma recusa receber a embarcação da ONG SOS Mediterrâneo e pediu a Malta para acolher o navio humanitário.

O ministro Mateo Salvini pediu a Malta para receber o navio, mas o Governo de La Valeta diz que o resgate foi feito com a coordenação de Roma e nada pode fazer. No meio desde impasse, autarcas de Palermo, Nápoles, Messina e Régio de Calábria já vieram dizer que estão disponíveis para autorizar que a embarcação atraque nos seus portos.

A decisão de rejeitar o navio com migrantes foi tomada pelo novo ministro do Interior de Itália, que é também o líder da Liga, um partido de extrema-direita. "Malta não recebe ninguém. França empurra as pessoas de volta para a fronteira, Espanha defende as suas fronteiras com armas. A partir de agora, Itália também vai começar a dizer não ao tráfico humano, a dizer não ao negócio da imigração ilegal", escreveu Salvini nas redes sociais.

"O meu objetivo é garantir uma vida pacífica para estes jovens em África e para as nossas crianças em Itália", referiu o ministro italiano, utilizando a hashtag "Estamos a fechar os portos".

O autarca de Nápoles foi claro na sua resposta a Roma: “Se um ministro cruel permite a morte de mulheres grávidas, crianças, idosos no mar, o porto de Nápoles está pronto a recebê-los. Somos seres humanos com um grande coração e estamos prontos para salvas vidas”.

Na Renascença, Rui Marques, da Plataforma de Apoio aos Refugiados, lembrou que há leis internacionais que não podem ser ignoradas. “O combate ao tráfico de pessoas e à imigração irregular deve existir. Deve ser eficaz, nomeadamente, apoiando o desenvolvimento dos países de origem e combatendo as máfias, mas evidentemente não se pode deixar 600 pessoas morreram afogadas”.

“Há uma pirâmide de valores e no topo está o valor da vida humana que em qualquer circunstância deve ser defendida”, sublinha.

O "Aquarius" tem a bordo 629 migrantes, incluindo 123 menores não acompanhados, 11 crianças e sete mulheres grávidas. Os menores têm entre 13 e 17 anos e vêm da Eritreia, Gana, Nigéria e Sudão, conta uma jornalista a bordo, Anelise Borges, da Euronews e da NBC, no Twitter. Cerca de 400 desses migrantes foram resgatados pela Marinha italiana, antes de serem transferidos para o navio, escreve a BBC.

As 600 pessoas a bordo foram resgatadas em seis operações de socorro diferentes.