O agitado mundo da energia
25-08-2018 - 13:59

Por imperativos de proteção ambiental, o recurso a combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão) tenderá a diminuir. Mas não se sabe quando as energias renováveis se tornarão predominantes.

O sector da energia vive tempos de mudança e, por isso mesmo, de incerteza. As energias fósseis – petróleo, gás natural, carvão, etc. – parecem condenadas a prazo, por causa dos seus efeitos nocivos no ambiente. Mas qual prazo? Ninguém sabe, como se não conhece quando irão os automóveis movidos a eletricidade dominar o mercado, nem como será produzida essa eletricidade (petróleo? renováveis?). Vale a pena, por isso, olhar para as tendências mundiais do passado recente quanto às mais importantes fontes energéticas. Muitos dos dados que a seguir se encontram foram obtidos no relatório anual que a BP publicou em junho passado – é a 67ª edição deste relatório, indispensável para quem queira conhecer o sector energético global.

Em 2017 o consumo de gás natural aumentou 3% no mundo, muito por causa da crescente procura da China. O gás natural é menos poluente do que o petróleo. Muito mais poluente é o carvão, cujo consumo cresceu 1% no ano passado, pela primeira vez desde 2013. Acontece que as reservas de carvão são enormes, quase inesgotáveis. E perto de um quarto dessas reservas situa-se nos Estados Unidos, onde Trump (que não acredita no aquecimento global…) eliminou recentemente algumas limitações à exploração das minas americanas de carvão. A reservas russas de carvão também são importantes (16% do total global), seguindo-se a Austrália (14%) e a China (13%).

O consumo mundial de carvão, que era superior a 40% do consumo energético mundial em meados do séc. XX, desceu para cerca de 30% a partir de 1970, mantendo-se a partir de aí relativamente estável. No ano passado estava em 27%. Ou seja, o carvão, que geralmente associamos à primeira revolução industrial, na Grã-Bretanha do séc. XIX, ainda é uma fonte energética significativa a nível global, o que não é bom para o ambiente.

Novidade nos EUA

O petróleo continua a ser a primeira fonte de energia no mundo, mas está em queda relativa. Antes do primeiro “choque petrolífero”, quando no início da década de 70 do século passado o preço do “crude” (petróleo bruto, não refinado) foi multiplicado por quatro, o petróleo abastecia praticamente metade do mercado energético mundial. Hoje abastece pouco mais de um terço.

Em queda também se encontra a energia nuclear, cuja produção subiu entre 1965 e 1989, mas depois baixou, representando atualmente apenas 5% da energia mundial. Os desastres de Chernobil, na Ucrânia, nessa altura (1986) parte da União Soviética, e de Fukushima, no Japão (2011), levaram vários países a desistir do nuclear, como é o caso da Alemanha. A hidroeletricidade (produção de energia elétrica em barragens), cuja percentagem no consumo mundial se mantem relativamente estável, é hoje de 8%, superior ao presente consumo de energia nuclear.

Já o consumo de gás natural tem vindo a aumentar nos últimos cinquenta anos. É agora a terceira fonte energética mais importante no mundo, a seguir ao petróleo e ao carvão. As reservas conhecidas de gás natural são hoje muito superiores às que se conheciam há vinte anos. Um quinto dessas reservas situa-se nos EUA, seguindo-se a Rússia, com 17%. A maior parte do gás natural é transportada por gasodutos (“pipelines”), mas tem vindo a aumentar o transporte por navio, operação para a qual o gás é liquefeito.

Voltando ao petróleo, a mudança importante ocorreu nos EUA. Aí nasceu o petróleo, no séc. XIX; mas a produção petrolífera americana não acompanhou o aumento do consumo ao longo do séc. XX e da primeira década do séc. XXI. Daí a crescente dependência do petróleo bruto (“crude”) importado pelos EUA, designadamente do Médio Oriente. Ora nos últimos anos a situação alterou-se, com o recurso crescente, naquele país, a uma técnica que tem os seus riscos ambientais, mas que levou a um aumento espetacular da produção de petróleo nos EUA. É o petróleo de xisto, obtido através da perfuração de rochas xistosas (o chamado “fracking”). Os EUA produziram no ano passado praticamente o dobro do petróleo que extraíram no seu território dez anos antes. Assim, quase atingiram a auto suficiência petrolífera, o que tem consequências geoestratégicas óbvias.

A ascensão das renováveis

Foi tornado público esta semana que no Alentejo vão ser criadas quatro novas centrais fotovoltaicas, que em conjunto deverão produzir eletricidade capaz de abastecer o consumo médio anual de quase 60 mil habitações. Pormenor importante: este empreendimento não vai receber subsídios públicos. É mais um exemplo da aposta empresarial crescente nas energias renováveis: hidroeletricidade, energia solar, eólica, biomassa, etanol, etc. O negócio das renováveis já é suficientemente atrativo, na maioria dos casos, para poder dispensar apoios estatais.

A eletricidade produzida no mundo em barragens subiu a cerca de 3% ao ano na última década. Destaca-se o aumento de produção na Ásia (China, sobretudo) e nos EUA. Na Europa a hidroeletricidade diminuiu à volta de 10%. As outras energias renováveis, cuja produção mundial era insignificante em 1985, já representavam em 2017 quase 10% na produção de eletricidade no mundo. Nesse último ano o crescimento da produção das renováveis atingiu 17%.

A energia eólica foi aquela cuja produção mais aumentou no ano passado (mais de metade do aumento). A energia solar representa um quinto da produção das renováveis. É na China que a energia das renováveis mais tem vindo a subir.

O futuro da energia está nas renováveis. E Portugal tem, felizmente, boas condições nesta área, nomeadamente na energia eólica e na energia solar.