“Não há a mínima hipótese de a Itália abandonar o euro e a UE”, afirmou Conte, um independente que é primeiro-ministro italiano, depois de a Comissão Europeia rejeitar o Orçamento para 2019 apresentado pelo governo de coligação entre o partido de Salvini, de tendência fascista, e o movimento populista 5 Estrelas, de Di Maio. Conti deverá estar consciente de que uma Itália que regressasse à sua moeda, a lira, levaria à miséria milhões de italianos e de empresas cujas dívidas são denominadas em euros.
O “chumbo” do orçamento italiano pela Comissão Europeia ocorre numa altura em que no horizonte próximo se perfila uma caótica saída do Reino Unido da UE, sem acordo de transição. Decerto que a Comissão ponderou bem o perigo, para a UE, de uma eventual saída também da Itália. Saída que, felizmente, não parece popular entre os italianos.
Foi uma decisão inédita: as divergências anteriores entre a Comissão e os países da zona euro foram sempre ultrapassadas através de negociações. O facto, porém, é que este governo italiano não mostra a menor disposição de apresentar uma nova versão do seu Orçamento à Comissão Europeia, durante as próximas três semanas, como Bruxelas exigiu. Ao contrário da Comissão, que manifestou o propósito de dialogar.
Falar grosso aos tecnocratas de Bruxelas e sublinhar que assim a Itália recupera soberania faz subir a popularidade, sobretudo a de Salvini. Um político que agora justifica o alargamento do défice orçamental com a necessidade de enfrentar a existência de cinco milhões pobres no seu país – há poucos anos, quando o seu partido de chamava Liga do Norte, Salvini preconizava outra solução: separar a Itália rica, do Norte, do Sul menos desenvolvido, criando um novo país, a Padânia. Por isso o seu partido se chamava Liga do Norte, cheia de desprezo pelos pobres do “Mezzogiorno”.
A Itália tem uma dívida pública monumental e vai precisar de recorrer ao crédito externo para financiar o serviço dessa dívida (juros e amortizações) durante longos anos. Os bancos italianos, que detém boa parte dessa dívida, já começam a sentir dificuldades. E os potenciais compradores estrangeiros de dívida pública italiana poderão assustar-se com o impasse e exigir juros incomportáveis para emprestar dinheiro à Itália.
O governo italiano – aliás razoavelmente dividido – acena com a fantasia de, após uma grande vitória dos populistas e eurocéticos nas eleições de maio próximo para o Parlamento Europeu, serem totalmente alteradas as regras da moeda única. Ainda que, por absurdo, tal acontecesse, não viria a tempo de salvar a situação.
O braço de ferro entre a Comissão Europeia e o governo italiano põe, assim, em risco o futuro do euro e da própria União Europeia. Por muito que o chefe do governo italiano (mas não é ele quem mais ordena – esse é Salvini) assegure que a Itália não sairá do euro nem da UE.
Este é, também, um risco para Portugal, apesar do nosso cumprimento das regras da moeda única. Uma grave crise do euro poria em causa quase tudo o que nesse domínio foi alcançado pelo ministro Centeno. Além de que Centeno, como presidente do Eurogrupo, terá de transmitir ao governo italiano alguns avisos pouco simpáticos.
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