A subida dos juros
19-10-2018 - 06:07

O principal impulsionador da subida dos juros tem sido o banco central americano, a Reserva Federal. Por muito que Trump se insurja.

Nas últimas emissões de dívida pública portuguesa, a curto e a longo prazo, os juros mantiveram-se razoáveis, mas subiram ligeiramente. E continuarão certamente a subir ao longo de 2019, aumentando a despesa do Estado nessa área. Naturalmente, a subida será maior ou menor consoante a execução orçamental se revele mais ou menos satisfatória.

Mas são fatores externos que sobretudo pesarão nessa previsível subida. O BCE deverá pôr termo, no fim deste ano, ao seu programa de compra de títulos da dívida pública, iniciativa de que Portugal muito beneficiou.

Mais preocupante será a possibilidade de uma crise na zona euro, decorrente da recusa do governo italiano de cumprir as metas de Bruxelas no Orçamento para 2019. A dimensão da economia italiana exclui um eventual resgate, como aqueles de que foram alvo Portugal, a Grécia e a Irlanda. E a arquitetura do euro ainda não foi completamente reformada, o que acentua os riscos.

Por outro lado, há vários países com problemas nas suas contas externas, como a Argentina e a Turquia, cujas moedas têm sofrido fortes quebras cambiais, aumentando o custo do seu financiamento externo. Há quem receie que essas crises contagiem outras economias emergentes.

O principal impulsionador da subida dos juros tem sido o banco central americano, a Reserva Federal (Fed). Este banco central foi o primeiro, depois do banco central do Japão, a concretizar um programa considerado pouco ortodoxo de criação de dinheiro para comprar títulos de dívida (o chamado “quantitative easing”). E a Fed baixou as suas taxas de juro diretoras para praticamente zero. Tudo isto para afastar a ameaça de deflação, isto é, de uma queda continuada dos preços.

O Japão não conseguiu livrar-se da deflação, ao contrário dos EUA. E não faltam economistas a recear que a política monetária expansionista da Fed tenha ido longe demais, provocando uma futura vaga inflacionista.

Neste momento, a economia americana cresce bem e a inflação situa-se à volta de 2%, como a Fed desejava. Mas para evitar futuros surtos inflacionistas a Fed, primeiro com Janet Yellen e, desde fevereiro passado, com Jerome Powell, tem vindo a subir gradualmente a sua taxa de juro. No corrente ano já houve três subidas e provavelmente ainda haverá uma quarta. Subidas que deverão continuar em 2019.

O Presidente Trump detesta essas subidas, como populista que é. Mas a Fed é independente do poder político. Segundo as atas da reunião da Fed de setembro, agora divulgadas, Jay Powell salientou que este banco central “está fora do processo político”.

Por muito que Trump clame que a Fed é o principal inimigo da prosperidade dos americanos, não vai haver inflexão da política monetária prudente que o banco central dos EUA tem seguido.