Sete gráficos para entender o impacto da Ómicron, a “variante tampão” da qual devemos tirar partido
03-01-2022 - 12:30
 • Joana Gonçalves

Tem um nível de transmissibilidade "que será difícil de superar" e uma menor probabilidade de causar danos severos, quando comparada com variantes anteriores, revelam estudos recentes. "Dificilmente novas variantes conseguirão tornar-se prevalentes no futuro", explica o diretor da NOVA Information Management School e investigador na plataforma Covid-19 Insights.

Mais transmissível e menos severa. A pouco mais de um mês da confirmação dos primeiros casos de Covid-19, em Portugal, associados à variante Ómicron, esta parece ser, para já, a tese que mais consenso reúne entre especialistas.

Seis novos estudos publicados no final de 2021 corroboram a hipótese de que a nova estirpe não é tão grave quanto inicialmente previsto e, em comparação com a Delta, apresenta um risco inferior de danos severos nos pulmões.

Quanto à transmissibilidade, os números falam por si eaproximam-se de um sarampo”, defende Pedro Simões Coelho. “A Ómicron, apesar de tudo, tem uma coisa boa: já tem um nível de transmissibilidade que em princípio será difícil de superar. Já se começa a aproximar de um sarampo. E, portanto, dificilmente novas variantes conseguirão tornar-se prevalentes no futuro”, explica o diretor da NOVA Information Management School (IMS).

Segundo o especialista, "de certa forma, é bom que apareça uma variante que praticamente serve de tampão a novas variantes e que, apesar de tudo, tem um nível de severidade menor do que as anteriores".

Uma comparação do total diário de óbitos por Covid-19 no último mês com igual período do ano passado torna clara a redução do impacto da Ómicron na mortalidade, face ao efeito da variante Delta, que começou a circular em Portugal em dezembro de 2020.

Ainda assim, e apesar do cenário otimista, com inegável efeito do avanço na cobertura vacinal, o investigador e membro da equipa responsável pela plataforma Covid-19 Insights alerta para a necessidade de manter a prudência e seguir a narrativa de “achatar a curva”.

"Todos sabemos que a percentagem de casos moderados a severos é inferior. Também sabemos que vai produzir uma taxa de internamento inferior à da variante Delta. Mas mesmo que se traduza pouco em internamentos, os números vão ser de tal forma esmagadores, que alguma pressão representará sempre para o SNS. Por isso, parece-me mais prudente que mantenhamos a lógica de procurar achatar a curva", defende.

"A decisão, que um ou dois países já referiram, de reabrir e deixar que as pessoas adquiram imunidade natural tem associado um risco enorme, o risco de que os números sejam mais altos do que se esperava e, de repente, não temos capacidade de resposta e começam a morrer pessoas, cuja morte seria evitável", acrescenta o professor catedrático da Universidade Nova.

Já na semana passada, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) revelou, no habitual relatório de monitorização das linhas vermelhas para a Covid-19, que "é provável um aumento de pressão sobre o todo o sistema de saúde e na mortalidade".

Na África do Sul, onde foi originalmente identificada a variante Ómicron, os dados sugerem que o pico das infeções já passou, alimentando as esperanças de que na Europa também se assista a uma vaga grande, mas de curta duração.

Por cá, ainda é cedo para fazer previsões e qualquer estimativa para os próximos dias “é pura especulação”, defende Pedro Simões Coelho. “Neste momento a Ómicron está a crescer, é dominante, mas o histórico é muito recente para conseguirmos estimar adequadamente os parâmetros, nomeadamente de transmissibilidade desta variante. Mesmo em termos internacionais os parâmetros ainda não foram estabelecidos e também não podemos utilizar essa fonte”, explica o diretor da NOVA Information Management School (IMS).

"É impossível responder a essa pergunta. Não há nenhum modelo em Portugal que possa, neste momento, fazer previsões sobre o pico e sobre a tendência de evolução no próximo mês. Isto é, podemos fazer especulações, não previsões", reforça.

A Bélgica foi o primeiro país europeu a confirmar um caso associado à nova variante ómicron, a 22 de novembro de 2021, e parece apresentar, agora, uma trajetória descendente de novos casos diários de Covid-19. Também a Dinamarca e Alemanha registam a mesma tendêndia.

Em Portugal, os dados sugerem que "nas próximas semanas o número de casos diários de Covid-19 continue a crescer significativamente". "Parece-me óbvio que daqui a algumas semanas vamos ter algumas dezenas de milhares de casos por dia", defende o Simões Coelho.

A variante Ómicron é já dominante em Portugal e soma uma proporção de casos estimada em 83%, no dia 29 de dezembro de 2021.

A taxa de positividade duplicou na útlima semana e fixa-se agora nos 6,7% de casos positivos no total de testes realizados, acima do limiar dos 4% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).