Tim Walz e JD Vance assumiram, na madrugada desta quarta-feira, o papel principal na campanha para as eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos da América (EUA). Os candidatos a vice-presidente, “companheiros de corrida” de Kamala Harris e Donald Trump, subiram ao palco para o que foi, provavelmente, o último debate do ciclo eleitoral de 2024, e decididamente o mais calmo desde que Trump entrou na política nacional norte-americana.
É mais fácil não haver tensão quando os alvos dos ataques não estão presentes. Com os protagonistas da corrida à Casa Branca longe dos microfones, o clima crispado do debate de setembro entre Kamala e Trump ficou de fora, apesar dos candidatos à presidência dos EUA terem sido criticados logo nas primeiras respostas – prova que é mesmo sobre estes que os eleitores pensam e decidem o voto.
Cientes de que os candidatos à vice-presidência têm mais facilmente impacto negativo do que positivo, tanto Walz como Vance evitaram ataques frontais e provocações pessoais, mostrando-se cordiais, capazes de concordar e com igual vontade de não responder diretamente às perguntas. Isto apesar de os dois apresentarem duas ideias bastante distintas sobre que país os EUA devem ser, e de o republicano registar bastantes mais mentiras do que o democrata.
"Ele perdeu a eleição"
A divergência mais fundamental surgiu na última pergunta do debate. Confrontado com a rejeição, por Donald Trump, dos resultados eleitorais da eleição presidencial de 2020, e comentários anteriores de que não certificaria a eleição se fosse vice-presidente, JD Vance atirou a bola para “o futuro”.
Mas a bola voltou para trás, e o republicano acabou a apontar para uma suposta tentativa “à escala industrial” de Kamala Harris para censurar “desinformação”, culpando a atual vice-presidente de “censurar os americanos por dizer o que pensam na sequência da pandemia”.
Tim Walz, que começou o debate algo tentativamente, aproveitou para esfregar sal na ferida, pressionando o adversário a dizer se Trump perdeu, ou não, a eleição de 2020. As respostas de Vance continuaram a seguir o caminho da “censura” e das políticas de moderação das redes sociais, incluindo um branqueamento do que aconteceu no ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA.
“Eu não giro o Facebook”, retorquiu Walz. “Ele perdeu a eleição, isto não é um debate a não ser no mundo de Donald Trump. Quando Mike Pence tomou a decisão de certificar aquela eleição, é por isso que ele não está neste palco. O que me preocupa é onde está a segurança com Donald Trump? Se ele sabe que ele pode fazer qualquer coisa, incluindo roubar uma eleição, e o vice-presidente não se vai opor”, questionou o democrata.
Imigração e economia com diferenças e sem novidades
A imigração foi um dos temas que os candidatos mais tempo passaram a debater, mas não necessariamente a responder às perguntas. Questionado sobre o potencial de a promessa de Trump de deportar imigrantes de forma massiva resultar, de novo, na separação de pais e filhos, JD Vance evitou responder por duas vezes.
Em vez disso, Vance preferiu criticar a atual Casa Branca – a que chamou de “administração de Kamala Harris”, procurando retirar à democrata a vantagem de representar uma mudança –, e falou na necessidade de “estancar a hemorragia”
Tim Walz recordou as ameaças à comunidade de imigrantes do Haiti em Springfield, no Ohio, desde que Donald Trump os acusou de “comer os cães” no debate com Kamala Harris, mas Vance usou esse ataque para apontar que escolas e hospitais estão “sobrecarregados” devido a “milhões de imigrantes ilegais”.
Desmentido pela moderadora Margaret Brennan sobre a ilegalidade dos imigrantes em Springfield, JD Vance queixou-se que não era suposto as moderadoras fazerem verificação dos factos durante o debate, e acabou com o microfone cortado enquanto a jornalista Norah O’Donnell tentava mudar o debate para a economia.
Na economia, como na imigração e na habitação, o ataque de Vance foi sempre o mesmo. “Se Kamala Harris tem planos tão bons para resolver os problemas da classe média, então ela deve fazê-lo já - não quando está a pedir uma promoção, mas no trabalho que o povo americano lhe deu há três anos e meio”, atirou o parceiro de Trump.
Cheque em branco para Israel
O debate começou pelo tema do Médio Oriente, mas as respostas demoraram a chegar. Tim Walz evitou responder diretamente sobre apoiar um ataque preventivo de Israel ao Irão, preferindo sublinhar a importância de Israel ter “capacidade de se defender” e a necessidade de “liderança estável” de Kamala Harris.
Confrontado com a mesma pergunta, JD Vance escolheu apresentar-se primeiro, culpando depois Kamala Harris e a sua “fraqueza” pelo ataque do Irão. De seguida, gabou a “dissuasão efetiva” de Donald Trump enquanto esteve no cargo, afirmando que os países “tinham medo de sair da linha” durante a presidência do republicano, entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021.
Quando respondeu, Vance deu luz verde a Israel para decidir que medidas escolhe tomar para “manter o seu país seguro”. “Devemos apoiar os nossos aliados quando estão a combater as más pessoas”, atirou o republicano.