O que explica a queda deste gigante norte-americano?
É mesmo um gigante. A multinacional, fundada em 1946 por Earl Tupper, marcou toda uma geração ao conquistar o mercado com o modelo de vendas diretas. Quem é que nunca ouviu falar das famosas reuniões onde se vendiam caixas de todas as cores e feitios?
A empresa chegou a ter mais de 300 mil vendedores independentes, mas não conseguiu adaptar-se à transformação do mercado, ao comportamento dos consumidores e, claro, à concorrência crescente. O modelo de vendas tornou-se obsoleto, e a empresa teve grandes dificuldades em adaptar-se ao ambiente digital e aos novos canais de vendas online, o que contribuiu para a sua queda no mercado.
Agora ninguém sabe onde encontrar as tais caixas conhecidas como tupperwares...
É verdade, as receitas foram derrapando à medida que aumentavam as dificuldades de Tupperware para colocar os produtos em lojas de retalho e nas plataformas de venda online... O aumento da concorrência e a diminuição da procura também afetaram a atividade da empresa, que nos últimos anos já se debatia com problemas de liquidez.
Com uma dívida de mais de 700 milhões de euros, começou a falar-se em risco de falência. As ações caíram 57% e já não foi possível travar o declínio, até que o pedido de falência se concretizou.
E vai fechar?
No imediato, não. A empresa recorreu a um mecanismo que existe nos Estados Unidos, o Capítulo 11 da Lei de Falências, que suspende o pagamento de dívidas e permite que a empresa proponha um plano de reestruturação, mantendo-se em funcionamento.
Em Portugal também há uma fábrica da Tupperware. Já se sabe o que vai acontecer?
Ainda não. A fábrica fica em Montalvo, no concelho de Constância, distrito de Santarém. Existe desde 1980 e tem cerca de 200 funcionários efetivos. É, aliás, a principal empregadora do pequeno município, onde vivem cerca de 4 mil pessoas.
Como depende a 100% da casa mãe norte-americana, as dúvidas e os receios são mais do que justificados, até porque a fábrica está parada neste momento.
A empresa não diz nada sobre a fábrica, nem aos trabalhadores?
Depois de questionado pela Camara de Constância, o vice-presidente da Tupperware Europa, Médio Oriente e África falou ontem ao telefone com o autarca, Sérgio Oliveira, a quem explicou que “não sabe o futuro da empresa, porque estão em fase de negociações com os investidores, e estão a trabalhar para criar uma estratégia para que a empresa seja mais atrativa”
Explicou, ainda, que as fábricas da Tupperware Portugal, Bélgica e África do Sul estão paradas porque têm muito stock.
Foi a autarquia que fez os contactos junto da multinacional? O Governo não está a fazer nada?
O Governo está a acompanhar a situação da Tupperware nos Estados Unidos e na fábrica portuguesa. Foi o que disse à Renascença, o Ministério da Economia.
Sérgio Oliveira, o presidente da câmara, confirma que tem estado em contacto com o ministro e com o secretário de Estado. Diz que está muito preocupado com os postos de trabalho em risco, mas também que nesta altura não há muito a fazer. É preciso esperar pela decisão da empresa, para saber o que o futuro reserva.