AstraZeneca suspende ensaios clínicos após reação adversa em voluntário
09-09-2020 - 06:28
 • Sofia Freitas Moreira com agências

Em agosto, a Comissão Europeia oficializou a compra de 300 milhões de doses desta vacina. Já Portugal conta receber cerca de 7 milhões de doses.

A AstraZeneca anunciou a suspensão da terceira fase dos ensaios clínicos da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica britânica, em conjunto com a Universidade de Oxford. A decisão foi tomada após suspeitas de uma reação adversa grave num dos voluntários.

A notícia foi avançada pelo Stat News, que cita um comunicado da empresa britânica. "Trata-se de um procedimento de rotina que é aberto sempre que há uma potencial doença inexplicável durante um ensaio, para que possa ser investigado, assegurando a integridade dos ensaios", refere um porta-voz da farmacêutica na nota.

Os testes encontravam-se na fase três, a última antes da homologação do fármaco. Não é conhecida a natureza da reação adversa, nem o período em que terá decorrido, mas o site de notícias avança que o participante afetado deverá recuperar.

Na nota, o porta-voz da AstraZeneca acrescenta ainda que a empresa está a "trabalhar para agilizar a revisão do evento único para minimizar qualquer impacto potencial no cronograma do teste".

Não se sabe ainda quanto tempo vai durar a suspensão dos ensaios que estavam a ser feitos desde a fase 1 em 62 locais nos Estados Unidos. Brasil, África do Sul e Reino Unido, onde a reação adversa foi identificada, receberam ensaios das fases dois e três.

O Stat News avança que não se sabe quem ordenou a decisão, embora exista a possibilidade de que os ensaios tenham sido interrompidos voluntariamente pela AstraZeneca e não por um regulador do setor.

A suspensão temporária dos testes de vacinas não são uma prática incomum. Atualmente, existem nove vacinas candidatas contra a Covid-19, na terceira fase dos ensaios clínicos.

"Em testes de larga escala, surgem muitas vezes doenças que devem ser revistas independentemente e com cuidado", explica um porta-voz da Universidade de Oxford à BBC.

Segundo o editor de saúde da BBC, Fergus Walsh, esta é a segunda vez que os testes desta vacina são suspensas. Segundo a mesma fonte, os ensaios poderão ser retomados dentro de poucos dias.

Os resultados preliminares das fases um e dois, publicados em julho, revelaram que cerca de 60% dos mil voluntários apresentaram efeitos secundários, embora todos tenham sido considerados ligeiros ou moderados.

Na altura, os testes foram encarados como promissores no que diz respeito à segurança e à criação de imunidade, sendo que 90% dos participantes (entre os 18 e os 55 anos) desenvolveram anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2.

Na terça-feira, os diretores executivos das nove empresas que estão a desenvolver potenciais vacinas comprometeram-se a "manter a integridade do processo científico", após terem surgido preocupações com uma eventual pressão aos reguladores por parte do presidente norte-americano, Donald Trump, para que a distribuição de uma vacina aconteça antes das eleições presidenciais de novembro.

A nota divulgada pelo The Guardian cita os representantes da AstraZeneca, BioNTech, GlaxoSmithKline, Merck, Moderna, Johnson & Johnson, Sanofi., Novavax e Pfizer.

O ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, já reagiu à suspensão dos ensaios, dizendo que não se trata necessariamente de um revés.

"Isto é obviamente um desafio para os ensaios clínicos desta vacina em particular. Não é a primeira vez que isto acontece com a vacina de Oxford", disse Hancock em declarações à Sky News, esta quarta-feira.

Questionado sobre a hipótese de esta suspensão poder atrasar o processo de desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19, o ministro britânico respondeu que "não necessariamente", acrescentando que isto "vai depender do que vão encontrar quando fizerem a investigação".

No dia 27 de agosto, a Comissão Europeia oficializou a compra de 300 milhões de doses. O investimento foi de 336 milhões de euros.

Este foi o primeiro contrato assinado entre a União Europeia com um fabricante de uma potencial vacina para a Covid-19.

"Através do contrato, todos os Estados-membros poderão adquirir 300 milhões de doses da vacina AstraZeneca, com uma opção para mais cem milhões de doses, a serem distribuídas numa base proporcional à população", destacou, na altura, a instituição.

Caso venha a ser bem sucedida, Portugal conta receber cerca de sete milhões de doses.

A pandemia de Covid-19 já provocou pelo menos 893.524 mortos e infetou mais de 27,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

[Notícia atualizada às 10h15 com as declarações do ministro da Saúde britânico, Matt Hancock]