A Igreja assinala este domingo, 1 de setembro, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Na mensagem que divulgou para este dia, o Papa Francisco alerta para o impacto que a ação humana tem sobre o ambiente, relembrando que é preciso contrariar a exploração descontrolada dos recursos naturais, que continua a prejudicar sobretudo as populações mais pobres.
“É uma mensagem muito rica, desde logo porque coloca esta dimensão naquilo que é coração da vida cristã, daquilo que significa ser e viver como cristão. O cuidado com a Criação, esta ecologia integral de que o Papa nos fala, o cuidado com tudo aquilo que sai da obra criadora de Deus - seja a Casa Comum, seja a própria humanidade – é intrínseco a ter fé, a ser crente”, explica João Luis Fontes, da Rede Cuidar da Casa Comum.
Em declarações à Renascença, João Luís Fontes acrescenta que o desafio é “viver despertos, atentos a estas realidades, fundados na dinâmica Pascal da esperança. É muito interessante! É a esperança como agir, esperar e agir no concreto”.
Para este responsável - que integra a rede Cuidar da Casa Comum, criada em Portugal após a publicação da encíclica Laudato Si, e que reúne inúmeras instituições católicas, e não só – é particularmente importante o alerta que o Papa reafirma nesta mensagem, para que se tome consciência de que é preciso impor “limites éticos” ao desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), que pode ser usada para dominar o Homem e a natureza, em vez de estar ao serviço da paz e do desenvolvimento integral.
“Na Inteligência Artificial, o que o Papa chama atenção é, por um lado, esta realidade nova, que é também uma realidade cheia de potencialidades, mas ao mesmo tempo pode ser também um instrumento de uma enorme destruição. E por isso é preciso colocarmos limites, percebermos de que modo é que este instrumento pode estar ao serviço da humanidade, ao serviço desta Casa Comum onde a humanidade habita, e não como um instrumento de um poder centrado em si próprio, que procura o domínio e a destruição”.
Esses limites éticos são também necessários, diz, porque há o perigo de o homem se querer substituir a Deus. “É óbvio que o Papa usa bem as palavras, para mostrar que o antropocentrismo judaico cristão significa que o mais importante é a pessoa, entendida não em função de si própria, mas na relação com Deus e com tudo o resto. O Papa diz-nos que tudo o que nos é dado é como dom e como tarefa, daí o alerta que faz para a inteligência Artificial”.
O grito dos pobres e o grito da Terra
João Luis Fontes destaca o papel pioneiro que o Papa tem tido na denúncia da crise climática e na busca de soluções. “O Papa é um dos grandes responsáveis por tornar esta questão central, também ao nível do catolicismo, tornando-nos cada vez mais conscientes da realidade e das profundas consequências que o desgoverno dos homens na utilização dos recursos naturais provoca na própria Criação, na vida das pessoas e no agudizar das desigualdades económicas e sociais”.
“No fundo, para o Papa, a questão climática - e por isso é que ele fala sempre de uma ecologia integral - é que estes dois gritos são sempre muito associados, o grito dos pobres e o grito da Terra. porque acaba por afetar, sobretudo e em primeiro lugar as populações mais pobres e mais frágeis, que têm menos instrumentos para ultrapassar as consequências nocivas das alterações climáticas e do nosso uso não cuidado dos recursos da Terra”.
Por iniciativa do Papa, este Dia Mundial de Oração é o arranque do chamado "Tempo da Criação", que envolve várias igrejas cristãs, e que vai prolongar-se até 4 de outubro, dia de S. Francisco de Assis. João Luis Fontes, que integra também o Fórum Ecuménico Jovem, lembra que nos últimos anos tem havido inúmeras iniciativas ecuménicas, e até inter-religiosas, neste calendário comum.
“Ecumenicamente é uma iniciativa muito feliz. O próprio Papa Francisco aproveitou já diversas vezes este período para assinar documentos em conjunto com outros líderes cristãos, para que haja um grito comum para o mundo cristão , e para além dele, sobre a urgência de levar estas questões a sério, e nesse aspeto são muito significativas estas datas”, sublinha.
Em Portugal, no âmbito da Rede Cuidar da Casa Comum, têm sido desenvolvidas várias iniciativas, mas é preciso ir mais longe. João Luis Fontes lembra que a “ecologia integral” proposta pelo Papa, não é “uma moda”, mas um “caminho de conversão” pessoal, nomeadamente para os cristãos.
“Temos ainda um caminho grande a percorrer para chegarmos, de facto, ao coração dos cristãos e das cristãs, e percebermos que isto é mesmo uma questão séria, e que aqui joga-se também muito do nosso ser cristão. E não é uma questão de política ou de moda, é um problema que estamos efetivamente a atravessar, e o Papa diz precisamente na mensagem que não é apenas uma questão ética, mas é também uma questão teológica", refere-
"Aqui joga-se a relação entre o mistério do Homem e mistério de Deus, portanto, joga-se o coração da nossa fé. E é importante que comecemos a levar isto a sério e a pensar também as nossas opções, das individuais até enquanto comunidade e Igreja, de modo a procurarmos viver de forma mais saudável, entrarmos neste caminho de conversão também ao nível ecológico. Se conseguirmos fazer isto, seria muito bom, e como o Papa diz, este é sempre o princípio de uma conversão mais alargada”, sublinha.
Ainda este sábado o Papa Francisco pediu que se aposte cada vez mais nas energias renováveis, em detrimento dos combustíveis fósseis, que considera a "energia suicida no planeta". Foi na audiência que concedeu a funcionários da empresa elétrica italiana Terna, que trabalha na transição energética no país.
O ambiente é também o tema central do vídeo que divulga as intenções de oração do Papa para este mês de setembro. Na mensagem, conhecida na sexta-feira, o Papa diz que a “A Terra tem febre, está doente”, lembrando que as principais vítimas das catástrofes ambientais são os pobres, e que proteger a natureza exige respostas “sociais, económicas e políticas”.