Pobres pedem oportunidades e fim dos preconceitos em manifesto
19-11-2017 - 16:42
 • Maria João Costa

Neste primeiro Dia Mundial dos Pobres, em Lisboa, foi apresentado o “Manifesto dos Pobres”. O texto, divulgado pela Cáritas Portuguesa, foi escrito por quem vive a pobreza na primeira pessoa. São pedidas novas oportunidades, emprego, o fim das discriminações e uma nova economia e política.

“Por favor, não nos ‘roubem a esperança’, assim começa o Manifesto dos Pobres apresentado, em Lisboa, pela Cáritas Portuguesa naquele que é o primeiro Dia Mundial dos Pobres. As palavras iniciais do manifesto são pedidas emprestadas ao Papa Francisco que instituiu este dia mundial e que este domingo sublinhou a importância de lutar contra a indiferença face à pobreza.

O Manifesto dos Pobres apresentado depois de um almoço promovido pela Cáritas é escrito por quem vive na pele a pobreza. No texto é pedido que “acabem todos os preconceitos e discriminações, que haja emprego para quem precisa […] e que haja oportunidades para os que as procuram”.

Os pobres portugueses que assinam este manifesto falam na condição de marginalidade que sentem e pedem um abraço simbólico para “romper o círculo da solidão” em que vivem enredados. No manifesto agora dado a conhecer agradecem ao Papa Francisco por ter instituído este Dia Mundial dos Pobres e identificam-se com as palavras de Francisco que diz ser “difícil identificar claramente a pobreza”. “Muitas vezes, nós somos reduzidos a números e estatísticas” afirmam.

Para o presidente da Cáritas Portuguesa, a “indiferença é geradora de pobreza”. Em declarações à Renascença, Eugénio da Fonseca alerta para a “exagerada cultura da tecnologia, da robótica que está a substituir as pessoas está a gerar pobreza”. Segundo o responsável por uma das instituições que diariamente ajuda quem está em situação de pobreza, há hoje um novo perigo de aumento dos níveis de pobreza.

Eugénio da Fonseca afirma que “as pessoas criaram acesso ao trabalho, e bem mas logo pensaram que o paraíso regressou” e alerta: “Nós estamos outra vez a subir os níveis de endividamento. Isso pode levar a problemas sérios”. Segundo os números deste responsável da Cáritas, “na altura da crise, Portugal atingiu os 13% de endividamento, agora já estamos nos 12% de endividamento ao consumo”.

No Manifesto dos Pobres pode ler-se um pedido para que sejam postas em “prática novas formas de vida, na economia e na política que acabem com a pobreza e marginalidade”. Eugénio da Fonseca defende, por exemplo, que “devia haver um órgão no Governo para regular as entidades que fornecem créditos baratos e que depois criam grandes exigências na recuperação do crédito”. Por isso, conclui o presidente da Cáritas, “não posso dizer que a pobreza diminuiu”.

Pelos que vivem a pobreza na primeira pessoa é deixado um alerta no Manifesto dos Pobres, a toda a classe política: “Não queremos servir apenas para campanhas eleitorais de quem nos esquece no dia a seguir”. É por isso pedido um “compromisso sério de todos em ordem à mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, escutando o grito de todos os marginalizados para os reerguer desse estado”.

Palavras firmadas no Dia Mundial dos Pobres, o dia em que o Papa Francisco pediu a todos que lutem contra a indiferença e que não digam que a pobreza “é culpa da sociedade”.