Visita do Papa Francisco à Hungria “é um grande acontecimento”
10-09-2021 - 19:41
 • Pedro Mesquita , enviado especial a Budapeste

O último Papa a visitar o país foi João Paulo II, há um quarto de século. Na agenda de Francisco está o Congresso Eucarístico Internacional e um encontro com o primeiro-ministro Viktor Orbán, que está em rota de colisão com a União Europeia.

A visita do Papa Francisco à Hungria, no domingo, está a ser encarada com expetativa. “É um grande acontecimento quando o chefe da Igreja Católica vem ter connosco”, diz à Renascença um sacerdote de Budapeste.

Nota-se um crescendo de entusiasmo, e de curiosidade, por dois motivos muito diferentes. Primeiro a dimensão religiosa. Francisco estará pouco mais de seis horas em Budapeste, mas a sua presença reveste-se de um enorme significado, desde logo porque vai encerrar o Congresso Eucarístico Internacional.

Também porque o último Papa a visitar a Hungria foi João Paulo II, faz agora 25 anos. Este é um fator sublinhado pelo padre Gregory, com quem falei esta tarde na Basílica de Santo Estevão, bem no centro da capital.

“Estou muito satisfeito que o Papa venha à Hungria, porque a última vez que um Papa aqui esteve foi em 1996, foi há muito tempo, e eu penso que é um grande acontecimento quando o chefe da Igreja Católica vem ter connosco. Estou muito feliz. É muito importante porque o Papa é – em si mesmo – um símbolo da unidade da igreja, e quando cá vem nós conseguimos sentir melhor que estamos unidos, somos uma Igreja. É muito bom”, afirma o padre Gregory, em declarações à Renascença.

O sentimento de felicidade do padre Gregory pela visita do Papa, já daqui a dois dias, é partilhada pelos quase quatro milhões de católicos da Hungria. Muitos deles tentarão certamente estar presentes, na manhã de domingo, na Praça dos Heróis, em Budapeste, para assistirem à santa missa, presidida por Francisco.

Outros prometem acompanhar atentamente cada palavra do Papa pela televisão, tanto nesta celebração eucarística, como antes quando Francisco reunir com os bispos e com os representantes do conselho ecuménico.

A curta passagem do Papa Francisco pela Hungria, uma visita pastoral, ficará também marcada pelo encontro com o Presidente da República e, em particular, com o primeiro-ministro Viktor Orbán.

O chefe do Governo de Budapeste tem assumido posições polémicas em relação aos migrantes, às fronteiras, segue uma estratégia populista e nacionalista, que tanto têm irritado a União Europeia. O referendo que Viktor Orbán convocou sobre a lei que discrimina a comunidade LGBT é outro dos pontos de discórdia.


Ainda há dias, na entrevista que concedeu à Cadena Cope, de Espanha, o Papa dizia não saber ainda se iria encontrar-se com Orbán. Sabia, isso sim, que estava prevista uma saudação por parte das autoridades húngaras e não sabia quem o iria fazer.

Seja como for, o Papa acrescentou que não costuma andar com uma cartilha. Quando está diante de uma pessoa olha-a nos olhos e deixa que lhe saiam as palavras. Por isso, o que irá dizer Francisco a Orbán, quando se avistarem é uma incógnita.

Na leitura de Gabor, um idoso sentado num banco de jardim em frente ao Danúbio, será pelo menos um bom sinal que pessoas com pontos de vista tão diferentes sejam capazes de dialogar, mas acredita que não será um encontro fácil. Talvez por isso, especula Gabor, é que esta deslocação do Papa à Hungria será tão breve.

Se calhar, tornaram esta visita assim tão curta por existirem tantas diferenças. É já um bom sinal que falem apesar de posições distantes em tantas matérias. Acho que será difícil tanto para o Papa, como para o Presidente e para o primeiro-ministro, terem uma conversa muito bem-sucedida.”

Gabor acredita que este será um encontro complicado e explica porquê: “será difícil porque o primeiro-ministro da Hungria tem por regra posições diferentes do resto da União Europeia. Muitas pessoas neste país dizem que ele é um oportunista e acho que esse não é um bom ponto de partida para falar com o Papa”.

E qual é a opinião deste cidadão húngaro sobre o primeiro-ministro Viktor Orbán? Gabor dá uma resposta diplomática.

“A minha opinião é que se pode acreditar em muito do que diz, mas não se pode acreditar em tudo. Julgo que, por regra, a população húngara tem muito orgulho no seu país, e isso também significa ter orgulho no seu primeiro-ministro, e julgo que há muito de verdade naquilo que ele diz.”

A leitura de um cidadão húngaro que aguarda com expectativa pelas marcas da passagem de Francisco pela Hungria, 25 anos depois da visita do Papa João Paulo II.

Francisco vai estar seis horas na Hungria e segue viagem para a Eslováquia, onde estará até quarta-feira.

Na Eslováquia, o Papa tem uma agenda muito intensa, num país em que mais de 65% das pessoas são católicas. Apesar de chegar logo domingo, a cerimónia de boas-vindas em Bratislava, no palácio presidencial, está só marcada para segunda-feira.

Esta também será uma viagem com diversas deslocações do Papa, de avião, a outras regiões da Eslováquia, como Kosice, onde vai presidir numa praça à divina liturgia bizantina de São João Crisóstomo.

Haverá um outro momento particularmente marcante, quando o Papa se encontrar com a comunidade cigana num bairro de Kosice e, depois, com os jovens, num estádio, na terça-feira.

Na quarta-feira, antes de regressar a Roma, Francisco desloca-se ainda a Sastin, onde vai presidir à santa missa na esplanada daquele santuário nacional.