Papa aos religiosos: não se resignem às injustiças e ao sofrimento
16-02-2016 - 17:54
 • Aura Miguel , em Morelia

No México, Francisco disse a padres e consagrados que não podem ser “funcionários do divino”. A resignação é “uma das armas preferidas do demónio”.

A resignação perante as injustiças e o sofrimento que parece não ter fim é “uma das armas preferidas do demónio” e é preciso rezar para não cair nessa tentação. E foi com esse apelo que o Papa Francisco se dirigiu esta terça-feira a padres, freiras, consagrados e seminaristas, no Estádio Venustiano Carranza, em Morelia, onde cumpre o quarto dia de visita ao México.

“Qual é a tentação que nos pode vir de ambientes dominados muitas vezes pela violência, a corrupção, o tráfico de drogas, o desprezo pela dignidade da pessoa, a indiferença perante o sofrimento e a precariedade? À vista desta realidade que parece ter-se tornado um sistema irremovível, qual é a tentação que repetidamente nos vem?”, perguntou o Papa na homilia em que falou da importância da oração, nomeadamente do Pai Nosso.

Ora, essa tentação, respondeu Francisco, é a resignação. “À vista desta realidade, pode vencer-nos uma das armas preferidas do demónio: a resignação. Uma resignação que nos paralisa e impede não só de caminhar, mas também de abrir caminho; uma resignação que não só nos atemoriza, mas também nos entrincheira nas nossas ‘sacristias’ e seguranças aparentes; uma resignação que não só nos impede de anunciar, mas também de louvar; uma resignação que nos impede não só de projectar, mas também de arriscar e transformar”, continuou Francisco, apelando a todos os consagrados a que rezem: “Por isso, Pai Nosso, não nos deixeis cair em tentação.”

Na homilia, o Papa começou por falar da importância da oração. “A escola da oração é a escola da vida, e a escola da vida é o lugar onde fazemos escola de oração”, disse Francisco, passando a explicar como Jesus introduziu os seus discípulos nos mistérios de Deus e lhes mostrou o que significa ser Filho de Deus.

“Ele soube viver rezando e rezar vivendo, ao dizer: Pai Nosso. E convidou-nos a fazer o mesmo. A nossa primeira chamada é para fazer experiência deste amor misericordioso do Pai na nossa vida, na nossa história. A primeira chamada que Jesus nos fez foi para nos introduzir nesta nova dinâmica do amor, da filiação. A nossa primeira chamada é para aprender a dizer ‘Pai Nosso’, como S. Paulo insiste dizer ‘Abbá’”, afirmou Francisco, para quem a missão dos consagrados é dizer “Pai Nosso” na vida toda e com a vida toda.

“Não somos, nem queremos ser funcionários do divino; não somos, nem o queremos ser jamais, empregados de Deus, porque fomos convidados a participar na sua vida, fomos convidados a encerrar-nos no seu coração, um coração que reza e vive dizendo: Pai Nosso”, continuou o Papa, apelando a todos que todos os dias rezem para não cair em tentação.

E uma das armas a que os membros da Igreja devem recorrer para não cair na tentação da resignação é a “memória”: a memória de cada um, da história da Igreja e a memória de grandes evangelizadores como o primeiro bispo de Michoacán, D. Vasco Vásquez de Quiroga, conhecido como “Tato Vasco”, “o espanhol que se fez índio” no século XVI.

“Pai, Papá, Abbá, não nos deixeis cair na tentação da resignação, não nos deixeis cair na tentação da perda da memória, não nos deixeis cair na tentação de nos esquecermos dos nossos maiores que nos ensinaram, com a sua vida, a dizer: Pai Nosso”, concluiu o Papa.

A Renascença no México com o apoio da Santa Casa da Misericórdia