​A farsa da modernização ferroviária
17-07-2019 - 06:25

A inauguração de 56 quilómetros de via férrea eletrificada revela sobretudo o desinteresse do atual Governo por este meio de transporte.

No princípio desta semana o primeiro-ministro inaugurou 56 kms. de via férrea eletrificada nas linhas do Douro e do Minho. Uma prova do empenho do governo socialista em promover a ferrovia em Portugal? Não, pelo contrário.

O PS passou os mais de dez anos dos governos de Cavaco Silva a reclamar contra a alegada “obsessão do cimento” (ou seja, as auto-estradas) e a exigir mais investimento no caminho de ferro. Mas, quando o PS foi governo, com A. Guterres e sobretudo depois com J. Sócrates, insistiu ainda mais nas auto-estradas e esqueceu o comboio. Esquecimento que o governo de A. Costa prolongou, levando à presente multiplicação de supressões de comboios e à degradação do material circulante e dos carris.

A três meses de eleições, era preciso mostrar algum serviço nesta área onde vemos tantas reclamações. Daí a inauguração de uns tristes 56 kms. de comboios a tração elétrica. Só que, como noticiou o “Público” na segunda-feira passada, não foi instalada a prevista sinalização eletrónica. Tudo continua a funcionar manualmente, com bandeiras e agulhas manejadas por funcionários, como no séc. XIX.

O troço Nine-Viana do Castelo foi eletrificado com 13 meses de atraso e o troço Caíde-Nine surge dois anos e meio depois da data prevista. Na linha do Douro são maiores os atrasos. No troço Marco-Régua a eletrificação deveria estar agora pronta, mas nem sequer foi aberto qualquer concurso.

Com todos estes atrasos, são limitados os ganhos de tempo para os passageiros e as vantagens para o ambiente destas pífias inaugurações. É mais uma manifestação do custo para os portugueses de uma austeridade disfarçada que logrou a redução do défice orçamental, mas esconde a que preço. O governo voltou a dizer que “virámos a página da austeridade”. É preciso ter lata…