"Colagem" do CDS ao regime angolano irrita Ribeiro e Castro
18-08-2016 - 13:22

Deputado Hélder Amaral disse que o CDS está muito mais próximo do MPLA do que no passado. Ex-presidente fala em "mudança radical de posição" do partido e numa "falta de respeito pelos militantes".

O ex-presidente do CDS Ribeiro e Castro defende que o partido deve explicar as declarações do seu deputado Hélder Amaral no Congresso do MPLA, em Luanda, que classificou como “miserável” investidura de um partido único.

“O que o CDS – com estas declarações – veio fazer foi investir o partido único, e isso é uma coisa miserável. Os angolanos, incluindo o MPLA, querem construir uma democracia pluripartidária e vem um partido estrangeiro ungir e investir um partido único como se não houvesse mais partidos em Angola. Isto, de facto, é outra vez um mau serviço que se faz aos angolanos: do mesmo calibre do tempo em que nos cafés em Lisboa as pessoas se entrincheiravam por trás dos partidos armados alimentando a guerra civil em Angola. Isto é muito negativo”, disse à Lusa José Ribeiro e Castro.

O dirigente e deputado do CDS-PP Hélder Amaral disse na quarta-feira, em Luanda, que o partido está muito mais próximo do MPLA e, agora, com "muitos mais pontos em comum".

O deputado acrescentou que na questão da crise económica e financeira que Angola vive e que Portugal também enfrentou, os dois países encontram pontos em comum, nomeadamente a diversificação económica.

"O Presidente [José Eduardo dos Santos] falava porventura em encontrar imaginação e nós costumamos dizer em Portugal, um país que não tem recursos naturais só pode sobreviver com imaginação e inovação, mais um ponto de contacto e por isso é que eu digo que estamos cada vez mais próximos", adiantou. "Agora, não temos que andar lado a lado, isso não é necessário, temos é que caminhar para o mesmo sentido.”

Hélder Amaral disse que o mesmo exemplo de ponderação e bom senso dado pelo CDS-PP também é evidenciado no MPLA, mais um sinal de que "os dois países, os dois partidos, têm tudo para que essa relação seja cada vez mais forte".

O CDS-PP foi pela primeira vez convidado para participar num congresso do MPLA, onde estarão igualmente delegações do PS, PSD e PCP. Paulo Portas, ex-presidente do CDS, foi convidado a título pessoal e estará presente. Bloco de Esquerda, crítico do regime angolano, Os Verdes e PAN não participam.

“Colagem absoluta”, “mudança radical de posição”

Ribeiro e Castro não gostou de ouvir estas palavras. Diz que o CDS-PP deve esclarecer as posições manifestadas pelo deputado centrista à margem do VII Congresso do MPLA porque é uma alteração brusca de posição em relação ao partido no poder em Angola.

“É uma colagem absoluta. É uma mudança radical de posição, que eu não sei se foi tomada por algum órgão do partido. Creio que se trata de uma falta de respeito pelos militantes e pela estrutura do partido. É uma questão de grande relevância e que devia ser reavaliada pela Comissão Política ou porventura pelo Conselho Nacional”, sustentou.

Para Ribeiro e Castro, as declarações do membro da delegação do CDS ao Congresso do MPLA ultrapassam também a participação “discreta” de um observador, passando a ser um “realinhamento” que “vai além daquilo que é justificável ou compreensível”.

“Faço notar que não houve declarações tão encomiásticas nem factos tão encomiásticos de qualquer representante partidário, nem sequer daquele que é o parceiro histórico do MPLA: o Partido Comunista Português. Isto diz tudo da confusão e da perplexidade que estes factos lançam no eleitorado português”, frisou o antigo presidente do CDS-PP (2005-2007).

Quanto à presença de Paulo Portas, antigo vice-primeiro-ministro do Governo PSD/CDS-PP, Ribeiro e Castro nota que não representa os centristas mas que “os seus actos” recaem também sobre o partido.

“A opinião pública e o eleitorado penaliza-nos por coisas que projectam indirectamente a imagem do CDS”, afirmou.

Ribeiro e Castro defendeu que a delegação do CDS-PP deveria verbalizar em Luanda, “sem ingerências”, a preocupação com questões relacionadas com direitos, liberdades e garantias em Angola e considerar que existem outras formações partidárias angolanas além do MPLA.

“O meu respeito por Angola, pelos angolanos e pela independência é total. José Eduardo dos Santos é o Presidente da República de Angola que deve ser tratado com respeito e consideração, sobretudo tratando-se de um país irmão”, refere ainda Ribeiro e Castro, acrescentando que Angola só cumprirá “o seu destino” quando for uma democracia plena e se aproximar dos níveis da democracia em Cabo Verde, “um exemplo para todas as democracias africanas”.

José Ribeiro e Castro tem tomado posições públicas sobre direitos humanos em Angola, nomeadamente sobre os acontecimentos relacionados com os presos de consciência angolanos que foram acusados de tentativa de golpe de Estado em 2015.

A Lusa contactou o assessor de imprensa do CDS, que remeteu para mais tarde uma eventual reacção do partido às declarações e exigências de Ribeiro e Castro.