Mundial do Qatar. "Toda a gente é bem-vinda", mas há hotéis que vetam entrada a homossexuais
12-05-2022 - 11:17
 • Inês Braga Sampaio

Contactados, sob pseudónimo, por órgãos de informação nórdicos, três hotéis, dos 69 listados pela FIFA, recusaram casais do mesmo género. Vinte impuseram restrições.

Três dos quase 70 hotéis recomendados pela FIFA para alojamento durante o Mundial 2022, no Qatar, vetam a entrada a homossexuais.

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, respondeu às críticas sobre violações dos direitos humanos no país organizador do próximo Campeonato do Mundo com uma de várias garantias: "Toda a gente é bem-vinda ao Qatar, inclusive as pessoas da comunidade LGBTQ+."

No entanto, surge a questão: como é isso possível num país em que a homossexualidade é proibida por lei? Três órgãos de informação nórdicos contactaram todos os 69 hotéis listados sob pseudónimo, receberam resposta de 59 e provaram que nem tudo é como Infantino diz.

De acordo com uma investigação conjunta das televisões SVT Sport, da Suécia, NRK, da Noruega, e DR, da Dinamarca, 20 dos hotéis listados no site oficial da FIFA recomendam que pessoas homossexuais não mostrem a sua orientação sexual se querem reservar um quarto.

Três hotéis foram mais longe. "Obrigado pela questão, mas de acordo com os nossos regulamentos, não podemos acomodar-vos", respondeu, por exemplo, o hotel The Torch Doha, citado pelo site da SVT Sport.

O Magnum Hotel & Suites Westbay respondeu: "Não, não aceitamos [casais homossexuais]." O Wyndham Grand Regency referiu que "tal 'check-in'", de um casal gay em lua de mel, "não é possível".

Casais dissuadidos de se vestirem "homossexualmente"


Vinte hotéis, como referido, não vetaram o casal fictício, no entanto, mostraram reservas: o casal homossexual era aconselhado a não mostrar que o era. Um deles explicou mesmo o que poderia acontecer.

"Da parte do hotel, não nos importamos, mas quero informar-vos que já tivemos incidentes em que a polícia do Qatar removeu do hotel pessoas que estavam em relações homossexuais", informou um porta-voz.

O porta-voz de outro hotel pediu que o casal se vestisse de forma apropriada e aconselhou a uma leitura da lei do país, que dita que a homossexualidade pode valer uma pena de até sete anos de prisão:

"Não julgamos, mas (...) se puserem maquilhagem e se vestirem 'homossexualmente', vai contra as leis do país. Mas no nosso hotel, é 'OK' se se vestirem de forma apropriada e não mostrarem qualquer comportamento homossexual, nem se beijarem em público."

Mais de 30 hotéis aceitam homossexuais sem restrições


No total, 33 dos hotéis recomendados pela FIFA não apresentaram quaisquer objeções a homossexuais. Treze não responderam ou trabalham apenas como hotel para quarentena, a propósito da pandemia da Covid-19. Três recusaram homossexuais, conforme referido. Vinte apresentaram condicionantes. Ao todo, são mais de 33% os hotéis que recusam ou impõem restrições à estadia de casais do mesmo género.

Contactados, mais tarde, de forma oficial, o Wyndham Grand Regency e o Magnum confirmaram que não aceitam homossexuais. O Torch Doha emendou a mão: disse que toda a gente é bem-vinda, mas que casais homossexuais não deveriam mostrar o seu amor em público.

As três televisões nórdicas confrontaram, depois, a FIFA, que respondeu que está "convencida de que todas as medidas necessárias serão implementadas para que adeptos LGBTQI e outros possam desfrutar" do Mundial 2022, no Qatar, "de forma confortável e segura".

"A FIFA esforça-se por criar um ambiente não discriminatório e que promove a diversidade", frisou o organismo que tutela o futebol mundial.