Esquecer azedumes, olhar os desafios e votar
01-10-2019 - 16:40
 • Manuel Carvalho da Silva*

Disponibilizemos um pouco do nosso tempo para irmos votar. O voto não resolve tudo, mas ajuda muito.

No próximo domingo, dia 6 de outubro, esqueçamos azedumes com os partidos, sentimentos de frustração por termos sido, em certas situações, vítimas de falsas promessas ou outras causas de desmotivação. Disponibilizemos um pouco do nosso tempo para irmos votar: o livre exercício desse direito e a nossa permanente atenção e mobilização constituem as bases fundamentais para a construção de um futuro melhor.

Os portugueses, mobilizando-se, deitando mão dos recursos materiais, culturais, científicos e tecnológicos existentes, e exigindo uma melhor utilização e distribuição da riqueza, podem transformar positivamente as suas condições de vida e dar um forte contributo para que as novas gerações tenham um bom futuro. O voto não resolve tudo, mas ajuda muito.

Na legislatura anterior, as politicas austeritárias tinham-nos colocado num lamaçal perigoso e eram enormes os receios quanto ao futuro. Isso gerava desmotivação que, num processo social contraditório - como tantas vezes acontece - se misturava com fortes exigências de buscarmos caminhos novos. Eram grandes os desafios em 2015 e foi importantíssimo irmos votar: não se resolveram muitas das limitações das nossas vidas, mas encontrou-se um caminho gerador de esperança para a maioria das portuguesas e portugueses. Mesmo com muitas gafes e contradições deu-se, até, um salto qualitativo no papel e desempenho das instituições e no exercício da política.

Os temas e o tom dos debates durante toda a pré-campanha confirmaram-no e puseram em evidência que, se para além do exercício do voto, continuarmos atentos e ativos será possível eliminar injustiças, inseguranças e precariedades, desde logo no trabalho. É possível termos uma sociedade menos tolerante com a pobreza, mais atenta ao direito à saúde, à educação e à justiça, com menos corrupção e compadrios.

Agora, nas duas semanas da campanha formal, surgiram umas bactérias peludas como o "caso" de Tancos e as "radicalizações" típicas da fase final das campanhas. Mas o fundamental dos problemas e as posições de cada força política perante eles continua claro.

Os tempos que aí vem são muito exigentes. O cenário internacional está carregado de nuvens e tensões que podem rebentar a qualquer momento e dar origem a um ciclo regressivo. A União Europeia soma fragilidades e contradições.

Portugal e os portugueses precisam de politicas que rompam com o baixo perfil da nossa economia, a estagnação dos salários e das pensões; de um ataque estrutural às desigualdades; de uma recuperação e melhoria do SNS e da Escola Pública.

Estou profundamente convicto de que o reforço equilibrado de cada uma e do conjunto das forças de esquerda – num quadro que as obrigue a continuarem a construir compromissos entre elas - contribuirá bastante para uma governação e uma dinâmica parlamentar capazes de construírem as respostas que são necessárias.

*ex-sindicalista, investigador e professor universitário