“Pedir desculpa é uma solução muito fácil”
22-02-2018 - 07:06
 • Eunice Lourenço

Presidente avalia visita de Estado a São Tomé e Príncipe que considera histórica e promete voltar ainda como Presidente

No nosso tempo, 18 anos são uma “eternidade”, diz Marcelo Rebelo de Sousa, mas foi esse o tempo que demorou a acontecer uma nova visita de Estado a São Tomé e Príncipe. Esse é um dos fatores que leva o Presidente da República a considerar histórica que visita que termina esta quinta-feira àquele país.

Outro fator foi a homenagem à vitimas e a assunção de responsabilidades do massacre de Batepá, um episódio de repressão ocorrido em 1953 no qual foram mortos milhares de santomenses que se recusavam a trabalhar de forma forçada nas fazendas de cacau e café e nas obras públicas.

Em declarações à Renascença, já em jeito de balanço desta visita, o Presidente português diz também que o eventual mal-estar com o Governo santomense está sanado. Recorde-se que, na semana passada, o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, deu uma entrevista à agência Lusa em que mostrava insatisfação com a cooperação portuguesa.

Acha que Portugal devia pedir desculpa por acontecimentos como o massacre de Batepá ?

Até fiz mais do isso. Podia chegar e dizer, no jantar de terça-feria, “olhe pedimos desculpa por aquilo que se passou”. Mas o pedido de desculpa é uma solução muito fácil, achei que era muito mais importante explicar que houve fases positivas e negativas e houve momentos gravíssimos como o caso do massacre de Batepá, que qualifiquei mesmo de “massacre”. E disse que vamos mais longe do que pedir desculpa: assumimos a responsabilidade plena, reconhecemos que foi intolerável e condenamos aquilo que sucedeu. E, ao reconhecer a responsabilidade plena, isso é muito mais do apenas pedir desculpa. Foi gravíssimo, foi um episódio muito, muito, muito negativo na nossa história passada e comum com São Tomé e Príncipe.

Esta visita começou sobre o signo das críticas ou queixas do primeiro-ministro santomense. Considera que está tudo sanado?

Sim. Totalmente.

Há um clima fraternal como tem pedido?

Totalmente. Penso que o primeiro-ministro de São Tome quis dizer uma coisa – ele próprio implicitamente o deu a entender na intervenção no Fórum Empresarial – que foi chamar a atenção para a necessidade de se passar a um novo patamar. O que havia era e é muito importante, então na parte social é importantíssimo. Normalmente, fala-se na parte empresarial, há uma visão um pouco tecnocrática, mas sem a imagiologia que trouxemos, o que contribuímos em matéria de bloco operatório, aquilo que as nossas equipas estão a fazer em termos de apoio hospital, o panorama era muito diferente. E aquilo que, nalguns pontos cruciais, como vimos com as irmãs franciscanas, se faz em relação a milhares de pessoas diretamente abrangidas e famílias é muito importante. Mas, além disso, chamou a atenção para, no plano empresarial irmos mais longe. Então, vamos mais longe. Já era intenção do Governo português há que dizê-lo, mas o sr. Primeiro-ministro entendeu que devia, no fundo, chamar a atenção para aquilo que, no fundo era comum. E, portanto, como era comum vai fazer-se.

Esta visita quase que se poderia dizer que é histórica ….

Histórica! E por quatro razões. Porque 20 anos são muito anos. 18 anos, que é quase 20, entre visitas presidenciais neste tempo é uma eternidade. Antigamente, não porque o ritmo era lento, mas agora é uma eternidade. Em segundo lugar, é uma eternidade porque 70 e tal por cento da população tem menos de 35 anos e, portanto, não tem referências de Portugal.

Disse no encontro com a comunidade portuguesa que não vai demorar 18 anos a voltar. Vai voltar ainda como Presidente?

Com certeza ! Mais de dois terços da população de São Tomé não tem em comum com Portugal certas referências sequer de memória e, portanto, esta juventude toda reencontra uma referência nesta visita presidencial e naquela parte que é virada para a infância e para a juventude. Aqueles que tinham essa referência são um terço ou menos da população. Não temos essa noção.

Em terceiro lugar, há um reconhecimento formal do massacre que nunca tinha sido feito, até porque não havia memorial quando cá veio o Presidente Jorge Sampaio [em 2018].

Finalmente, uma quarta, havendo esta nova dimensão em termos de acordo de parceria económica é diferente, porque fica diferente tudo o que possa haver de parcerias ou entendimentos de outros países com São Tomé e Príncipe.