Um livro sobre a vida e obra do cardeal Cerejeira, escrito "por uma questão de higiene"
08-03-2018 - 13:27
 • Aura Miguel, com Redacção

O sociólogo Luís Salgado de Matos lança "Um Patriarca de Lisboa no século XX português" e assume sentir "irritação" pelo facto de "grande parte a historiografia contemporânea" apontar Cerejeira "como uma espécie de 'capo' eleitoral do dr. Salazar".

"Um Patriarca de Lisboa no século XX português" é o mais recente livro do investigador Luís Salgado de Matos. A obra, que é lançada esta quinta-feira, percorre a vida do cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, patriarca de Lisboa durante quase toda a vigência do Estado Novo, entre 1929 e 1971.

O sociólogo diz à Renascença que escreveu este livro "por um questão de higiene", concretizando: "O que me levou a aceitar o desafio do sr. D. Manuel é a irritação por ver que uma grande parte a historiografia contemporânea apresenta o sr. patriarca Cerejeira como uma espécie de 'capo' eleitoral do dr. Salazar, o que é totalmente ridículo"

"Procurei sempre, até ao fim, não escrever um livro de apostolado, não por não ser católico, que sou, ou por ter algo contra o apostolado, que não tenho", sublinha Salgado de Matos.

O sociólogo, que há décadas estuda o Estado Novo e as relações Igreja/Estado, diz que procurou desmontar alguns equívocos que subsistem e destaca o facto de que a preocupação central de Cerejeira foi a de "obter do Estado o reconhecimento da Igreja".

"Em meados dos anos 60, alguém tentou persuadir Cerejeira a condenar publicamente uma acção política do Estado Novo e o cardeal respondeu: 'Eu não estou disposto a desfazer em dois minutos a minha acção de 40 anos'", exemplifica.

O livro, que inclui muitas fotografias, algumas inéditas, com extensos comentários do autor, será lançado esta quinta-feira, às 18h30, no Museu de São Roque, em Lisboa. A apresentação será feita pelo actual patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que assina o prefácio.

No texto, o cardeal Clemente diz que a obra é um ensaio biográfico "original e estimulante", que junta “o social, o político e o existencial”.