“Pela primeira vez, há tantas pessoas nas ruas a pedir a saída do Partido Comunista Chinês”
28-11-2022 - 15:34
 • João Carlos Malta

O politólogo da Universidade de Macau Eilo Yu fala de um crescendo de protestos contra as políticas de covid zero na China, nas últimas semans, e que teve no incidente de Xinjiang um novo rastilho. A novidade é que agora os protestos tornaram-se mais abrangentes e os alvos são também quem parecia intocável: o Partido Comunista Chinês e o presidente Xi Jiping.

Um jogo de paciência entre o governo chinês e os manifestantes. É isto que Eilo Yu, professor de administração pública e governança da Universidade de Macau, pensa que vai acontecer nos próximos dias em várias cidades chinesas, onde irromperam manifestações na rua contra a política de Covid zero no país.

Este especialista não crê que as forças policiais, pelo menos no imediato, endureçam a repressão aos manifestantes.

“Depende da determinação dos manifestantes para seguir com os protestos, o governo vai tentar ganhar tempo para deixar as pessoas nas ruas impacientes. Querem fazer com que elas percam o impulso e a energia que as levou a sair de casa e a protestar, e assim seja mais fácil fazê-las dispersar”, assinala Eilo Yu.

“Não penso que avancem já para a repressão, mas isso dependerá da determinação das pessoas”, acrescenta o professor, avançando que vê nesta situação muitas parecenças com os protestos de 2019 em Hong Kong, que durante meses puseram a cidade em alvoroço contra a Lei de Segurança Nacional.

A morte de pelo menos 10 pessoas num incêndio em Urumqi, na província de Xinjiang, que estavam há 100 dias em confinamento, levou à explosão de manifestações por todo o país.

O professor da Universidade de Macau diz que estes protestos apesar de serem mais intensos do que no passado, surgem na sequência de outros que ocorreram nas últimas semanas em vários pontos do país, como Xangai e Pequim.

Eilo Yu considera que, neste momento, a situação parece “bastante caótica” e há uma mistura de objetivos entre quem se está a manifestar. Há pessoas que apenas querem criticar as políticas de saúde pública do Partido Comunista Chinês, mas também há quem queira dar o passo em frente e tornar estes protestos mais abrangentes, ou seja, contra o regime liderado por Xi Jinping.

“Há uma mistura de descontentamentos, os que estão insatisfeitos com a pandemia e outros que querem levar esta discussão para um nível politico”, resume o professor da Universidade de Macau.

O que há de verdadeiramente novo é que “pela primeira vez há tantas pessoas nas ruas a pedir a saída do Partido Comunista Chinês".

“Até os estudantes que antes apenas pediam reformas dentro do sistema, estão agora a questionar a legitimidade do governo por todo o país”, adianta.

Em relação, a estes protestos se alargarem a Macau e Hong Kong, Eilo Yu avança que “os media não estão a fazer uma grande cobertura do que está a acontecer na China Continental. Mas alguns estudantes que são da China Continental [que estão na Universidade de Macau] gostariam de fazer eco do que se passa”.

Em Hong Kong, há já pessoas a sair à rua em solidariedade com os chineses que vivem na “mainland”, empunhando folhas brancas – símbolo dos protestos que têm assolado o país durante os últimos dias.

Num manifestação que juntou centenas de pessoas naquela cidade do sul da China, a Polícia chegou ao local onde estavam os manifestantes e identificou-os um a um.

Um deles citado pelo "Hong Kong Free Press" lamentou: “Infelizmente hoje é mais fácil de organizar uma manifestação na China Continental do que em Hong Kong”.