​Eutanásia sem paliativos não permite liberdade de escolha, diz bastonário
24-02-2016 - 00:34
 • Raquel Abecasis

Em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, José Manuel Silva pede um "aprofundado" debate sobre a eutanásia antes que a classe política tome decisões sem legitimidade, uma vez que "nenhum partido colocou a eutanásia no programa com que se apresentou às eleições".

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Avançar para a legalização da eutanásia sem uma rede de cuidados paliativos não garante verdadeira liberdade de escolha, afirma o bastonário da Ordem dos Médicos em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.

Para José Manuel Silva, quem defende a eutanásia como uma questão de liberdade de opção "devia exigir que, primeiro, tivéssemos uma rede de cuidados paliativos adequada”.

“Defendem a liberdade de opção das pessoas, mas as pessoas não têm liberdade de opção se não tiverem liberdade de acesso a uma unidade de cuidados paliativos", sustenta.

"É evidente que, se as pessoas não têm acesso a uma unidade de cuidados paliativos, correm o risco de ter um maior sofrimento e, portanto, são obrigadas a optar pela eutanásia. Ora, isso não é uma liberdade de opção", sublinha.

Em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença, José Manuel Silva pede um "aprofundado" debate sobre a eutanásia antes que a classe política tome decisões sem legitimidade, uma vez que "nenhum partido colocou a eutanásia no programa com que se apresentou às eleições".

"É necessário um amplo debate para que todos saibam do que estamos a falar e não pode ser tomada uma decisão acelerada apenas por um circunstancialismo político, porque seria politizar a questão da eutanásia que não deve ser nem politizada, nem transformada numa questão religiosa, é uma questão que nos diz respeito a todos", adverte.

Em entrevista à Renascença, José Manuel Silva diz que muita gente fala de eutanásia porque desconhece que há mecanismos, como o testamento vital ou declaração antecipada de vontade, para impedir que lhes sejam aplicado tratamentos que não desejam.

“Nenhum médico pode fazer nada a um doente desde que este não autorize. Portanto se, em última instância, um doente recusar tratamentos que visam prolongar a vida, não tratamentos que visam aliviar o sofrimento, ou seja, esta recusa de tratamento não é obrigar os doentes ao sofrimento, não tem nada a ver uma coisa com a outra e há uma confusão de conceitos nesta matéria, aqui estamos a falar de distanásia do encarniçamento terapêutico", explica o bastonário da Ordem dos Avogados.