D. Manuel Clemente: “Luta” em defesa da vida "continua" após aprovação da eutanásia
20-02-2020 - 19:26
 • José Carlos Silva

Cardeal Patriarca defende "um outro cuidado à vida na sua plenitude", para "não deixar ninguém sozinho com o seu sofrimento, físico ou psíquico".

Os cinco projectos a defender a eutanásia foram aprovados esta quinta-feira, no Parlamento, mas para a Igreja Católica em Portugal, o processo não está encerrado. O cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, defende que "a causa continua" em defesa da vida.

“O que nos interessa a todos é que a vida seja devidamente contemplada em todo o arco existencial, da conceção à morte natural. Isto é uma luta, uma insistência. É uma convicção que permanece independentemente do que possa acontecer legislativamente, a causa continua”, afirma D. Manuel Clemente em resposta a uma pergunta da Renascença.

“Isto implica a todos nós, como sociedade, crentes ou não crentes, uma outra atenção às pessoas. Não basta dizer, como nós dizemos, que a vida tem de ser contemplada no seu todo, porque se nós começamos a fazer exceções, mesmo que seja a pedido, depois a vida não se aguenta na sua inteireza. Por isso, como sociedade temos que estar muito mais presentes”, sublinha o cardeal patriarca.

D. Manuel Clemente insiste na necessidade da sociedade no seu todo, ter mais cuidado com a vida. O cardeal patriarca faz o retrato de um país cada vez mais envelhecido, em que muitos idosos são abandonados pela família no hospital.

“Nós temos que ter um outro cuidado à vida na sua plenitude e é isto que nós queremos fazer, para não deixar ninguém sozinho com o seu sofrimento, físico ou psíquico, mas estarmos ao pé delas. Mas isto tem que ser a sociedade toda, o Estado, a sociedade organizada, os cidadãos, uma verdadeira cidadania solidária. Tem de ser algo de completo, não podemos deixar isto a especialistas”, sublinha.

Perante a votação desta quinta-feira no Parlamento, o cardeal patriarca de Lisboa opta por não fazer apelos, nem aos partidos, nem ao Presidente da República, mas a que ninguém deixe ninguém só ao longo da sua existência.

“O apelo que eu tenho a fazer é o que tenho feito: esta é uma frente comum, é uma frente humana essencial, não podemos deixar ninguém sozinho ao longo da sua vida, sobretudo, quando mais precisam de nós. Os clínicos, famílias e voluntários que estão perto de quem sofre dizem que, em geral, as pessoas não querem partir porque estão acompanhadas. A convivência é que é a vida”, destaca o patriarca.

D. Manuel Clemente em resposta a questões colocadas pela Renascença no final de uma visita ao Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, onde há precisamente 100 anos morreu a Santa Jacinta Marto.

O Parlamento deu esta quinta-feira o primeiro passo a favor da legalização da eutanásia ao aprovar por maioria os projetos de lei do Bloco de Esquerda, do PEV, do PS, do PAN e da Iniciativa Liberal nesse sentido.

As cinco propostas foram votadas em simultâneo, com cada deputado a levantar-se, por ordem alfabética, e a dizer como é que votava para todos.

Todas as propostas conseguiram mais do que os 111 votos necessários para serem aprovados, num dia em que estiveram na Assembleia da República 222 deputados.