Oficiais contra detenção de comandos. "Foi julgamento em praça pública"
21-11-2016 - 19:18

Associação de Oficiais das Forças Armadas questiona "se havia necessidade da senhora procuradora, em colaboração com a Polícia Judiciária Militar, ter montado uma operação de caça ao homem" dos sete militares "como se perigosos e foragidos criminosos se tratassem".

A detenção dos sete militares dos comandos para interrogatório judicial foi um "processo de julgamento em praça pública inédito em Portugal", acusa o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA).

Em comunicado enviado às redacções, o presidente da AOFA, o tenente-coronel António Mota, criticou esta segunda-feira as detenções que fizeram "estrondo na comunicação social".

António Mota questiona "se havia necessidade da senhora procuradora, em colaboração com a Polícia Judiciária Militar, ter montado uma operação de caça ao homem" dos sete militares "como se perigosos e foragidos criminosos se tratassem".

"A resposta a esta questão tem que ser dada por quem tem responsabilidades políticas na área da defesa, pois os militares que foram detidos, foram-no no âmbito das suas funções e no pleno exercício da mesma, num processo de julgamento em praça pública inédito em Portugal e cujo alcance na credibilidade dos militares e das Forças Armadas ainda está por apurar. A quem interessa esta situação", questiona.

A AOFA "continua a defender que o que se passou deve ser averiguado até às últimas consequências, a fim de que se apurem todas as responsabilidades", mas "espera que tal aconteça num clima de total entendimento do que é a realidade militar e sem quaisquer preconceitos".

O tenente-coronel António Mota considerou ainda que "não era necessário deter quem não deu qualquer sinal de se tentar subtrair ao apuramento de responsabilidades".

"A segunda pergunta que se coloca, face à afirmação de 'ódio patológico' experimentado pelos instrutores em relação aos instruendos, é onde ou a quem foi a senhora procuradora colher tão categórica qualificação incluída no despacho de pronúncia? Aos instruendos que permaneceram no curso? Ou aos que dele se retiraram por vontade própria ou foram eliminados", questionou.

A associação "lamenta profundamente a morte de dois camaradas de instrução" e está solidária com a dor das famílias e amigos, "mas não pode deixar de estar preocupada com a aparente intoxicação da opinião pública, que em tudo prejudica o apuramento da verdade e o bom nome das Forças Armadas e dos militares".

A Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu na quinta-feira mandados de detenção a sete militares, cinco oficiais e dois sargentos, no âmbito do inquérito às circunstâncias do treino que levaram à morte de dois alunos no 127.º curso de Comandos.

O médico Miguel Onofre da Maia Domingues, indiciado por dois crimes de homicídio negligente, foi sujeito sexta-feira à medida de coacção de suspensão de funções no Regimento de Comandos e em outras unidades de saúde militares.

O capitão-médico, responsável por zelar pela saúde dos instruendos do 127.º curso de comandos, durante o qual morreram os militares Hugo Abreu e Dylan Silva, foi o único dos sete arguidos detidos quinta-feira sujeito a uma medida de coacção diversa do Termo de Identidade e Residência, refere o Tribunal de Instrução Criminal da Instância Central de Lisboa.