Cem professores e investigadores da Universidade de Coimbra exigiram, através de um abaixo-assinado, a urgente abertura de um processo de averiguação aos factos associados à demissão do professor russo Vladimir Pliassov.
"É inaceitável, num Estado democrático de direito, garantidor da liberdade de consciência e pensamento, bem como numa universidade pública que repudia o pensamento único, alguém ser despedido sem a realização prévia de um inquérito para apuramento dos factos, sem a instauração de um eventual processo disciplinar", lê-se no abaixo-assinado enviado à agência Lusa.
Os docentes e investigadores da Universidade de Coimbra (UC) criticaram a forma como o reitor, Amílcar Falcão, demitiu Vladimir Pliassov (acusado por dois ativistas ucranianos de "propaganda russa"), e consideraram que não foram respeitados princípios e valores, "como a presunção de inocência, ou o direito de o acusado conhecer as razões objetivas da acusação para poder efetivar o direito ao contraditório".
Também assinam o abaixo-assinado vários docentes da Faculdade de Letras que já tinham sido signatários de um primeiro documento com apenas professores daquela unidade da UC, que também criticava a decisão do reitor.
Decisão de reitor "não foi explicada de modo claro", diz abaixo-assinado
O documento salienta ainda que a decisão de Amílcar Falcão "não foi explicada de modo claro e completo à comunidade universitária, nem mesmo depois da polémica pública e da reunião do Conselho Geral em que o tema foi debatido".
Os signatários criticaram o procedimento adotado contra Vladimir Pliassov e defenderam "a necessidade de urgente abertura de um processo de averiguação dos factos imputados àquele docente que respeite escrupulosamente os seus direitos".
Docente seria ex-agente do KGB, disseram ativistas
Vladimir Pliassov foi acusado de "propaganda russa" por dois ativistas ucranianos, num artigo de opinião publicado no Jornal de Proença e depois replicado pelo jornal Observador, que alegaram posteriormente, na Rádio Renascença, que o docente russo seria um ex-agente do KGB.
Entre os signatários estão a ex-ministra e docente da Faculdade de Direito (FDUC) Anabela Rodrigues, a docente e deputada do PS Cláudia Cruz Santos, o ex-diretor da Faculdade de Medicina Duarte Nuno Vieira, o antigo deputado do Bloco de Esquerda e docente da Faculdade de Economia (FEUC) José Manuel Pureza, o ex-secretário de Estado e professor da FEUC José Reis, a antiga juíza do Tribunal Constitucional Maria João Antunes e o capitão de Abril e docente da FEUC Pedro Pezarat Correia.
O antigo diretor do Departamento de Arquitetura José Bandeirinha, o antigo diretor do Museu da Ciência da UC Paulo Gama Mota, o subdiretor do Colégio das Artes, António Olaio, o coordenador científico do consórcio Ageing@Coimbra, João Malva, o catedrático e regente da cadeira de Direito do Trabalho na FDUC, João Leal Amado, e os membros do Conselho Geral Adérito Araújo, Ana Paula Arnaut e Lina Coelho são também signatários do documento, entre outros.
Um membro do Conselho Geral, que recusou ser identificado, disse à agência Lusa que foi dado nota, na reunião de segunda-feira, de que iria ser apresentado um requerimento para serem ouvidos naquele órgão o professor Vladimir Pliassov e o diretor da Faculdade de Letras, Albano Figueiredo.
Os membros do Conselho Geral irão depois pronunciar-se sobre esse mesmo requerimento, explicou.
A agência Lusa questionou o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior sobre o caso, tendo a tutela referido que não irá pronunciar-se sobre essa matéria.
A Lusa pediu também à reitoria da UC acesso aos documentos e provas que estarão na base do despedimento do professor Vladimir Pliassov, que foi rejeitado.