De Jorge Sampaio a Carlos do Carmo. Personalidades que morreram em 2021
28-12-2021 - 06:15
 • Ricardo Vieira, com redação e agências

Agora que o ano está quase a terminar, recordamos alguns dos políticos, artistas, desportivas e outros vultos que partiram em 2021.

Foram presidentes, líderes carismáticos que a história julgará, ativistas na linha da frente contra as injustiças, artistas ou desportistas que moveram paixões e multidões. De Jorge Sampaio a Otelo Saraiva de Carvalho, de Desmond Tutu a Donald Rumsfeld, de Carlos do Carmo a Charlie Watts, recordamos as personalidades que morreram em 2021.

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu no dia 10 de setembro, depois de ter sido internado devido a problemas cardíacos e respiratórios. Foram 81 anos de uma vida dedicada à causa pública, à política e à defesa dos direitos humanos.

Sampaio foi advogado de presos políticos durante a ditadura e inventou a frase "25 de Abril, sempre". Em democracia foi líder do PS e presidente da Câmara de Lisboa, antes de chegar à Presidência da República. O chefe de Estado que sucedeu a Mário Soares "tirou o tapete" ao Governo de Santana Lopes, foi um dos maiores apoiantes da independência de Timor-Leste e esteve na passagem de Macau para a China. Na reta final da sua vida, dinamizou um programa de apoio a estudantes sírios.

Portugal também se despediu de Otelo Saraiva de Carvalho, capitão de Abril, considerado o operacional da revolução dos Cravos que derrubou quatro décadas de ditadura. "Óscar" era o seu nome de código. Na década de 1980, surge associado às Forças Populares 25 de Abril, organização armada responsável por vários atentados mortais. Chegou a ser condenado a 15 anos de prisão por associação terrorista. Mais tarde recebeu um indulto, tendo sido amnistiado anos depois.

Jorge Coelho, antigo ministro e histórico socialista, morreu aos 66 anos. Homem da máquina do PS, Jorge Coelho não hesitou em assumir responsabilidades e apresentar a demissão do Governo aquando da tragédia da queda da ponte de Entre-os-Rios. Os últimos anos de vida foram dedicados ao comentário político e a um negócio na sua terra natal. "Quem se meter connosco, leva!", é uma das suas frases mais citadas.

O ano também fica marcada pela morte do padre Vítor Feytor Pinto, um comunicador com forte envolvimento em questões de saúde, Almeida Henriques, presidente da Câmara de Viseu, que estava internado com Covid-19, do médico legista José Eduardo Pinto da Costa, irmão do presidente do FC Porto, e do tenente-coronel Marcelino da Mata, um dos fundadores dos Comandos e dos militares da guerra colonial mais condecorados.

No plano internacional, morreram duas figuras da história da África do Sul e dois Nobel da Paz: o arcebispo Desmond Tutu, que ajudou a conduzir o país à reconciliação, e Frederik Willem de Klerk, o último presidente do regime do "Apartheid".

Depois de uma vida longa de quase um século, o príncipe Filipe, marido da rainha de Inglaterra faleceu. O casamento de mais de 70 anos com Isabel II torna Filipe no consorte mais duradouro da história da família real britânica.

Donald Rumsfeld e Colin Powell, dois antigos secretários de Estado norte-americanos que estiveram ligados às invasões do Afeganistão e do Iraque; D. Basílio do Nascimento, uma referência incontornável em Timor-Leste; Carlos Menem, ex-presidente da Argentina; Abdelaziz Bouteflika, ex-presidente Argélia; foram outras das personalidades que partiram em 2021.

Mas também o ancião dos jornalistas Larry King, aos 87 anos vítima de Covid-19; o astronauta Michael Collins, que fez parte da missão à Lua Apollo 11; o arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, que doou o seu espólio à Casa da Arquitetura em Matosinhos; Bernard Madoff, responsável por uma das maiores fraudes da história; John McAfee, criador do antivírus com o mesmo nome; Clive Sinclair, pioneiro da informática e pai do ZX Spectrum; e o estilista norte-americano Virgil Abloh.

Fado e rock de luto, e despedidas inesperadas

Dia 1 de janeiro de 2021. O ano começou com a morte do cantor Carlos do Carmo, um mestre renovador do fado. Foi um dos principais embaixadores da Candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, o primeiro português a ganhar um Grammy e deu a mão a novos talentos. Carlos do Carmo partiu, aos 81 anos, mas deixou como legado canções eternas como "Lisboa, menina e moça", "Bairro Alto", "Os Putos", "Um Homem na Cidade", "Canoas do Tejo", temas da banda sonora portuguesa das últimas décadas.

Em 2021, a cena musical nacional também perdeu a pianista Olga Prats; o viola baixo Joel Pina, que tocou para Amália Rodrigues; a cantora Maria José Valério, a voz da "Marcha do Sporting"; o "Rei da rádio" Artur Garcia; dois elementos dos Trio Odemira, os irmãos Júlio e Carlos Costa, que morreram com cinco dias de intervalo; Pedro Gonçalves, dos Dead Combo; Guilherme Inês, dos Salada de Frutas e Quarteto 1111;e DJ Magazino.

Carmen Dolores, uma das referências do teatro português nas últimas décadas, mas também brilhou na televisão, morreu a 16 de fevereiro. Tinha 96 anos. Esteve ligada ao Teatro Nacional D. Maria II e ao Teatro Nacional Popular, ajudando a fundar o Teatro Moderno de Lisboa. Esteve em momentos importantes do cinema português, em filmes como "Amor de Perdição" e "Balada da Praia dos Cães", trabalhou na televisão, fez rádio e era uma divulgadora de poesia. Em 2018, Carmem Dolores foi condecorada com a insígnia de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, numa homenagem no Teatro da Trindade, que incluiu a estreia da peça "Carmen".

A morte inesperada de Maria João Abreu, aos 57 anos, comoveu o país. A conhecida atriz de teatro e telenovela não resistiu a dois aneurismas que sofreu no dia 30 de abril, durante as gravações da novela “A Serra”, da SIC.

Rogério Samora sofreu uma paragem cardiorrespiratória em julho de 2021, durante a rodagem da telenovela "Amor, Amor", da SIC, que o atirou para uma cama de cuidados continuados. No final do ano, não resistiu a um agravamento do estado de saúde. Foram 40 anos de carreira, um homem do teatro e do cinema, que a televisão consagrou.

Cecília Guimarães, com 70 anos de carreira nos palcos e nos écrans do cinema e televisão, Adelaide João, que participou nas primeiras telenovelas portuguesas, "Vila Faia" e "Origens"; Natália de Sousa, nome do teatro de revista e de "O Tal Canal"; e Carlos Miguel, o popular "Fininho"; foram outros atores conhecidos que faleceram em 2021.

João Cutileiro, um dos maiores escultores contemporâneos portugueses, morreu nos primeiros dias de 2021. O monumento ao 25 de Abril, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, e a estátua de D. Sebastião, são alguns dos seus trabalhos mais conhecidos.

Meses depois, em maio, foi a vez do artista Julião Sarmento, um artista interdisciplinar que ao longo da carreira expressou-se através da pintura, desenho, escultura, fotografia, filme, vídeo, performance, som e instalação. Representou Portugal na Bienal de Veneza e a sua obra está em muitas coleções públicas e privadas na América do Norte e do Sul, Europa e Japão.

Nas artes e letras, 2021 foi o ano da morte da escritora Isabel da Nóbrega, autora de "Viver com os outros"; do poeta e tradutor Pedro Tamen, que também foi administrador da Fundação Calouste Gulbenkian; de Leonor Xavier, jornalistas, escritora e biógrafa de Maria Barroso e Raul Solnado; de José-Augusto França, historiador, sociólogo e crítico de arte; da pintora Armanda Passos; e de João Paulo Cotrim, escritor, editor e fundador da Bedeteca de Lisboa.

Os Rolling Stones perderam o seu elemento mais discreto. O talentoso baterista Charlie Watts ajudou a construir a história do rock & roll e deu ritmo a músicas que se tornaram na banda sonora de várias gerações, passadas de pais para filhos, como "Satisfaction" ou "Star me Up". Jogador de equipa, Charlie Watts não gostava de solos: "prefiro tocar para a banda", dizia o baterista.

Ligado à história dos Rolling Stones, mas também dos Beatles, o famoso produtor de música Phil Spector, que mudou o paradigma da música pop e rock na década de 1960, morreu de Covid-19, na prisão da Califórnia onde estava a cumprir pena pelo homicídio da atriz Lana Clarkson. Phil Spector foi o criador da famosa "Wall of Sound", a "parede sonora" que mudou a história da música.

O mundo da música também perdeu o pianista de jazz Chick Corea, Míkis Theodorákis, compositor da banda-sonora do filme "Zorba o Grego" e político; o rapper DMX, Dusty, baixista e vocalista dos ZZ Top, Carlos Marín, dos Il Divo, Joey Jordison, ex-baterista dos Slipknot, ou Lars-Göran Petrov, ex-vocalista dos Entombed.

Bunny Wailer, cantor e compositor jamaicano que trabalhou com Bob Marley, e Lee "Scratch" Perry ascenderam ao panteão do reggae, o género musical que nasceu na Jamaica e deu a volta ao mundo.

Calou-se a voz de Marília Mendonça, cantora brasileira de 26 anos que revolucionou a música sertaneja e encontrou a morte num trágico acidente de avião.

O Brasil também chorou a morte de Tarcísio Meira, estrela de telenovelas como "Guerra dos Sexos", "Roque Santeiro", "Tieta". "O Rei do Gado", "Torre de Babel", "Roda de Fogo" ou da segunda versão de "Gabriela".

Na sétima arte, deixaram-nos Christopher Plummer, o eterno capitão Von Trapp do filme "Música no Coração"; Gavin MacLeod, o capitão da série "Barco do Amor", o ator francês Jean-Paul Belmondo; e outras estrelas como Michael K. Williams, Ed Asner, Dean Stockwell, Jessica Walter, George Segal, Helen McCrory, Olympia Dukakis e Ned Beatty.

No último dia do ano, morreu a atriz e comediante Betty White, estrela da série "Sarilhos com Elas".

Nos bastidores, a diretora de fotografia, Halyna Hutchins, que foi morta acidentalmente na rodagem de um filme quando o ator Alec Baldwin disparou uma arma que pensava estar descarregada; Richard Donner, realizador do primeiro "Super-Homem" e de outros filmes populares como "Os Goonies" ou "Arma Mortífera"; e o produtor e realizador canadiano Jean-Marc Vallée, que fez assinou “O Clube de Dallas” e a série “Big Little Lies”.


Mortes no desporto

Felino entre os postes, fora do relvado era um "gentleman" que gostava de cantar. Adelino Augusto Graça Barbosa Barros, mais conhecido no universo do futebol como Neno, morreu de doença súbita, aos 59 anos. Guardou as balizas de clubes como Benfica, Vitória de Guimarães e Vitória de Setúbal, e chegou à seleção.

O ano ficou também marcado por fatalidades com atletas ainda no ativo. Primeiro, foi o futebolista do Alverca Alex Apolinário, após ter sofrido paragem cardiorrespiratória durante um jogo, depois foi Alfredo Quintana, guarda-redes de andebol da seleção e do FC Porto, que desfaleceu durante um treino.

Com apenas 32 anos, o ex-futebolista Bernardo Tengarrinha morreu perdeu a batalha contra um linfoma de Hodgkin. O ex-médio suspendeu a carreira em 2017, quando lhe foi diagnosticada a doença com sintomas semelhantes aos de uma leucemia.

Dois treinadores estrangeiros que emprestaram a sua sabedoria ao futebol português deram o último suspiro com poucos dias de diferença. Falamos do britânico Jonh Mortimore, treinador que conquistou dois campeonatos pelos Benfica e também orientou o Belenenses, e do eslovaco Jozef Venglos, antigo técnico do Sporting, que lançou Paulo Futre, e selecionador da Checoslováquia e da Eslováquia.

O mundo de futebol também se despediu em 2021 de dois super-goleadores. O alemão Gerd Müller, pelo Bayern de Munique, ganhou três Taças dos Campeões Europeus, um Taça das Taças, uma Taça Intercontinental, quatro campeonatos e quatro Taças da Alemanha. O "Bombardeiro" conquistou o Europeu de 1972 e o Mundial de 1974, no qual marcou o golo decisivo na final frente aos Países Baixos. Do outro lado do Canal da Mancha, o inglês Jimmy Greaves sagrou-se campeão do mundo, em 1966, e é o jogador que mais golos marcou no campeonato, numa só época.

Os desportos motorizados também perderam duas referências: Sir Frank Williams, fundador da equipa Williams, e Max Mosley, ex-piloto que presidiu à Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

O belga Jacques Rogge, antigo atleta e presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), entre 2001 e 2013. morreu aos 79 anos.