Em causa valores de civilização na Europa
29-08-2018 - 06:10

Aquilo que mais enfraquece a Europa comunitária é o abandono dos seus valores de civilização. O caso da Hungria é chocante.

A confiança dos empresários alemães subiu pela primeira vez em nove meses. Também melhoraram as expectativas empresariais quanto ao futuro. Oxalá estes indicadores facilitem a vida ao governo alemão, que parece algo assustado com a ascensão do partido eurocético Alternativa para a Alemanha. E tem razões para isso: multiplicam-se naquele país os ataques a imigrantes com aspeto de serem muçulmanos.

A chanceler Merkel disse no domingo passado à televisão alemã que, para ela, o mais importante tema político é a Europa, “assediada pelos populismos e em processo de fratura pelo Brexit”. Há que fortalecer a Europa, acentuou. A crise dos imigrantes enfraqueceu politicamente Merkel, que teve de moderar a sua abertura à entrada de estrangeiros. Mas aquilo que mais enfraquece a Europa comunitária é o abandono dos seus valores de civilização.

A Itália ameaça seguir essa via, acenando até com a recusa de pagar a sua parte para o Orçamento da UE. Claro que os italianos, como os gregos, têm reais motivos de queixa dos seus parceiros europeus, que não têm mostrado solidariedade na repartição dos encargos com o acolhimento de refugiados e imigrantes. Mas Salvini, o líder da Liga, de extrema-direita e verdadeiro patrão do executivo de Roma, aproveita essa injustiça para atacar as instituições europeias e assumir atitudes claramente fascistas. A insensibilidade social e ética de Salvini ficou, aliás, bem evidente por ele ter participado num jantar festivo horas depois do trágico desastre da ponte de Génova.

Há, porém, mais quem na UE viole abertamente os valores europeus de base e há mais tempo. Refiro-me ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que já vai em oito anos de mandato, e cuja deriva “iliberal” (como ele próprio diz) e antidemocrática tem vindo a ser seguida por outros Estados membros, como a Polónia, nomeadamente na interferência do poder político na área da justiça e na repressão do jornalismo livre. A hostilidade xenófoba aos imigrantes de Orbán chegou ao ponto de proibir que seja dada comida aos requerentes de asilo, ainda antes de existir uma decisão final sobre os pedidos desses refugiados. E na Hungria há sanções para quem ajudar imigrantes não legalizados.

A desumanidade de medidas deste tipo é incompatível com a pertença à UE. Percebe-se que, com o Brexit ainda em aberto, não seja oportuno contribuir nesta altura para novas saídas – seja da Hungria, da Polónia ou da Itália. Mas, pelo menos, exige-se que o Partido Popular Europeu – de que fazem parte o PSD e o CDS – tome finalmente uma iniciativa de condenação, se não mesmo de expulsão, de quem tão abertamente viola os princípios civilizacionais da Europa comunitária.

Por isso apoio totalmente a crítica que, na edição de segunda feira do Público, Rui Tavares dirigiu ao silêncio desses dois partidos portugueses sobre esta matéria. Na esperança que o PPE tenha um mínimo de fidelidade aos valores europeus.


Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus