Francisco em Jacarta contrapõe a fraternidade aos extremismos
04-09-2024 - 07:32
 • Aura Miguel

Francisco elogiou a “sábia e delicada harmonia” que se vive na Indonésia, entre a multiplicidade de culturas e de visões ideológicas diferentes e que “deve ser continuamente defendida contra qualquer desequilíbrio”.

“A harmonia no respeito pela diversidade é alcançada quando cada visão particular tem em conta as necessidades comuns e quando cada grupo étnico e confissão religiosa age com espírito de fraternidade, buscando o nobre objetivo de servir o bem de todos”, disse o Papa no seu primeiro discurso em Jacarta.

Francisco elogiou a “sábia e delicada harmonia” que se vive na Indonésia, entre a multiplicidade de culturas e de visões ideológicas diferentes e que “deve ser continuamente defendida contra qualquer desequilíbrio”.

Perante o presidente Joko Widodo, membros do governo e largas centenas de responsáveis políticos e autoridades civis e militares, Francisco sublinhou a urgência de “um trabalho artesanal confiado a todos, mas de modo especial à ação da política, quando esta tem como objetivo a harmonia, a equidade, o respeito pelos direitos fundamentais do ser humano, o desenvolvimento sustentável, a solidariedade e a busca da paz, quer no seio da sociedade quer com outros povos e Nações”.

Para fomentar uma harmonia pacífica e construtiva, a Igreja católica propõe-se, apesar de minoritária, incrementar o diálogo inter-religioso. “Desta forma, podem eliminar-se preconceitos e pode desenvolver-se um clima de respeito e confiança mútuos, indispensável para enfrentar desafios comuns; entre os quais a contraposição ao extremismo e à intolerância que, distorcendo a religião, tentam impor-se através do engano e da violência”, disse o Papa.

As distorções à fraternidade

“Infelizmente, no mundo atual existem algumas tendências que dificultam o desenvolvimento da fraternidade universal”, lamentou o pontífice. “Em várias regiões, assistimos ao aparecimento de conflitos violentos, que muitas vezes são o resultado da falta de respeito mútuo, do desejo intolerante de fazer prevalecer a todo o custo os próprios interesses, a própria posição ou narrativa histórica parcial, mesmo quando isso implica sofrimentos intermináveis para comunidades inteiras e resulta em verdadeiras guerras sangrentas”.

O Santo Padre reconheceu também a existência de casos em que, apesar da fé em Deus ser continuamente colocada em primeiro plano, “porém, infelizmente, é muitas vezes manipulada, não para construir a paz, a comunhão, o diálogo, o respeito, a colaboração, a fraternidade, mas para fomentar divisões e o ódio”. No entanto, e perante estas sombras, “alegra-me constatar como a filosofia que inspira a organização do Estado indonésio manifesta sabedoria e equilíbrio”, comentou, olhando para o chefe de Estado sentado a seu lado.

A beleza da harmonia

Ao despedir-se do palácio presidencial, Francisco reafirmou que a harmonia se alcança quando cada um se empenha, “não apenas em favor dos seus interesses e da sua visão, mas tendo em vista o bem de todos, a construção de pontes, o fomento de acordos e sinergias, a congregação de esforços para derrotar qualquer forma de miséria moral, económica e social, e promover a paz e a concórdia”.

Sugestivo foi também o breve texto que o Papa escreveu, momentos antes do discurso, no livro de honra da presidência: “Imerso na beleza desta terra, lugar de encontro e diálogo entre culturas e religiões diversas, desejo ao povo indonésio que cresça na fé, na esperança e na compaixão.”