Qual o "crime mais assustador para a Europa"? O comércio ilegal de gases refrigerantes
08-07-2021 - 08:55
 • Lusa

Relatório aponta a Roménia como principal ponto de entrada dos HFC ilegais (hidrofluorocarbonetos), provenientes da China e contrabandeados via Turquia e Ucrânia.

As ambições europeias de combate às alterações climáticas estão a ser minadas pelo comércio ilegal de gases refrigerantes (hidrofluorocarbonetos, HFC), revela um relatório divulgado, esta quinta-feira, que fala do "crime mais assustador para a Europa".

O relatório é o resultado de uma investigação da Agência de Investigação Ambiental (Environmental Investigation Agency, EIA, na sigla original), uma agência de proteção ambiental com sede em Londres e com escritório também em Washington e que trabalha na luta contra problemas ambientais mundiais e investiga crimes ambientais.

O relatório "O Crime Mais Assustador para a Europa - O Comércio Ilegal de Gases Hidrofluorocarbonetos Refrigerantes", aponta a Roménia como principal ponto de entrada dos HFC ilegais, provenientes da China e contrabandeados via Turquia e Ucrânia.

Segundo o documento, o potencial impacto climático deste comércio ilegal pode equiparar-se às emissões de mais de 6,5 milhões de carros a circular durante um ano.

A investigação da EIA, com recurso nomeadamente e investigadores infiltrados, além de identificar a Roménia como ponto de entrada dos HFC ilegais fala também de uma rede de intermediários envolvidos e na prática corrente de subornos através das fronteiras.

Os investigadores "não encontraram falta de fornecedores dispostos a violar a lei e entregar HFC contrabandeados, por vezes até em cilindros de uso único que foram proibidos na União Europeia", diz o documento.

O relatório adianta que a EIA identificou uma tendência crescente da circulação ilegal de um refrigerante muito potente (HFC-404A) cujo uso em grandes sistemas de refrigeração foi banido. Em 2020 este refrigerante, refere o documento, contabilizou mais de um terço de todas as apreensões de HFC.

De acordo com o relatório, a revelação mais chocante foi a de que estes gases perigosos estão a ser contrabandeados pela Europa até por pessoas que nem sabem o que estão a transportar.

"O comércio ilegal floresceu porque a fiscalização e as coimas são raras e geralmente não são proporcionais aos lucros obtidos", salienta a organização.

Ainda que a dimensão do fenómeno não seja estimada com precisão, a EIA admite que o volume de HFC ilegais a entrar na União Europeia (UE) é potencialmente de uma ordem equivalente a 20 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, cerca de metade das emissões totais de Portugal.

Em 2014 a UE reviu a regulamentação de gases fluorados para eliminar progressivamente os HFC, gases sintéticos com um efeito de estufa centenas de milhares de vezes mais potente que o dióxido de carbono e que são usados por norma na refrigeração, em ares condicionados, em aerossóis ou em espumas. Com menos desses gases e com o aumento dos preços proliferou o comércio ilegal.