Redes sociais "têm a responsabilidade de proteger as vozes" dos ativistas
03-11-2021 - 19:39
 • Daniela Espírito Santo

Bisneto de Nelson Mandela partilhou o palco com ativista palestiniana e queixou-se da falta de representatividade de minorias neste tipo de eventos.

Nem só de tecnologia se fala na Web Summit, pelo menos no que aos palcos "secundários" diz respeito. No palco Future Societies, esta quarta-feira, houve espaço para falar sobre ativismo, com Siyabulela Mandela, bisneto de Nelson Mandela, e Linda Sarsour, da organização "Until Freedom", que combate a injustiça social.

"Parabéns à Web Summit por ter a coragem de ter alguém como eu no palco", começou por dizer Linda Sarsour, que utilizou o espaço para falar "como palestiniana". "Estou aqui para falar a verdade ao poder", adiantou, com voz combativa.

Apesar de ser uma conversa mais reivindicativa que tecnológica, o poder das redes sociais acabou por servir de fio condutor na narrativa de Linda e Siyabulela, que, convidados por serem ativistas, recusam a designação. Ambos celebraram a importância que a Internet e as redes sociais têm no seu papel de "defensores da liberdade", sem esquecer a responsabilidade que as grandes empresas da Internet também deveriam ter na proteção de quem tem um papel reivindicativo.

"Sem o Twitter não haveria vozes para se interporem nas conversas. Não haveria movimentos como o Black Lives Matter", recorda Linda. No entanto, deixa o recado: as plataformas "precisam de proteger as vozes" dos ativistas.

"Tive de mudar de casa porque colocaram a minha morada online. Já nos ameaçaram de violação e morte. Estas plataformas não estão a responsabilizar quem faz isto", assegura. "Apelo às grandes corporações para continuarem a evoluir e proteger quem está online, de forma a garantir que temos um espaço seguro onde falar", continua. "Eles têm a responsabilidade de proteger as nossas vozes".

Mandela concorda, mas vai mais longe. "Não devíamos depender totalmente das redes sociais para fazer avançar a causa das pessoas oprimidas. Temos de ir para a rua. Usar as redes sociais para mobilizar, mas não é suficiente falar nas redes sociais", apela.

Para além do papel das redes sociais no dia-a-dia da dissidência, também é importante, dizem, que haja representatividade na liderança destas empresas e em fóruns de discussão como este. "Enquanto não houver diversidade nas grandes corporações, não vamos ver a mudança que queremos", diz Siyabulela Mandela.

"Olhem para a Web Summit... Ela [Linda] é, provavelmente, a única palestiniana aqui. Eu sou, provavelmente, um dos poucos africanos aqui. Olhem para a audiência. Quantos africanos vemos aqui?", remata.