A interminável crise na Guiné-Bissau
10-07-2020 - 06:28

O presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, não esconde que pretende instalar naquele país uma ditadura totalitária. Desgraçadamente, a auto-proclamação deste homem como chefe de Estado foi aceite pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. Como reagirá a CPLP?

O Fundo Monetário Internacional alertou para a corrupção e o narcotráfico na Guiné-Bissau. E diz que os investidores desconfiam do sistema judicial daquele país, porque as leis não são publicamente divulgadas com regularidade nem são explicadas.

O documento do FMI até foi elaborado a pedido das autoridades guineenses. As críticas do FMI são seguidas por 30 propostas de alterações legais, para melhorar o sistema de governação e o regime judicial.

“A Guiné-Bissau enfrenta riscos significativos e sistémicos de corrupção, que surgem não apenas devido ao uso indevido de recursos públicos, mas também através de narcotraficantes que utilizam funcionários do país”, refere o documento.

Ora sabe-se que vários narcotraficantes, que tinham abandonado a Guiné-Bissau, regressaram ao país, certamente por julgarem encontrar ali novas oportunidades para exercerem a sua atividade criminosa.

Por outro lado, os dirigentes guineenses que querem combater a corrupção são afastados e alguns deles perseguidos. Por exemplo, a ministra da Justiça, Ruth Monteiro, está escondida por temer pela sua segurança. E afirma que o Ministério Público da Guiné tem servido para perseguir os cidadãos.

Segundo informou o jornalista António Rodrigues no jornal “Público” de quarta-feira, o presidente Umaro Sissoco Emabaló quer transformar a Guiné-Bissau num país vigiado pelos serviços de segurança do Estado. O presidente garantiu nesta terça-feira que "os equipamentos já foram adquiridos e estão a ser instalados".

Explicou o presidente: “O Estado terá a capacidade para monitorizar os insultos sob a capa de anonimato nos órgãos de comunicação social ou nas redes sociais. Quem prevaricar será chamado à Justiça para responder pelos seus atos”.

Por outras palavras, o presidente Umaro Sissoco Embaló não esconde que pretende instalar na Guiné uma ditadura totalitária. Aliás, o desprezo deste político pela lei, incluindo a constitucional, já foi inúmeras vezes manifestado.

Desgraçadamente, a auto-proclamação de Umaro Sissoco Embaló como chefe de Estado foi aceite pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. A democracia não está na moda naquela região africana.

Será que que a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa) irá reagir a esta inaceitável situação na Guiné-Bissau? É duvidoso, pois a CPLP aceitou integrar um país africano que é tudo menos democrático, a Guiné Equatorial.