“Comunicar esperança e confiança no nosso tempo” foi o tema escolhido para o 51.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se assinala em Maio. Para o director da agência Ecclesia, Paulo Rocha, “o desafio é sobretudo o da criatividade. Se soubermos ‘embrulhar’ as boas notícias elas também provocam picos de audiência, seja na rádio na televisão ou nos jornais”.
Mas por que razão não há, então, mais boas notícias nos média em geral? Paulo Rocha diz que faz parte do jornalismo: “Basta estarmos em casa como ouvintes, espectadores ou leitores e ver ao que prestamos mais atenção. Quer queiramos, quer não, aquilo que é negativo, que é mau, acaba por nos prender”.
O que o jornalista não pode deixar de fazer, diz, é procurar o lado positivo de todas as coisas. E dá um exemplo: “Nas catástrofes que aconteceram em Itália, a notícia agora é do resgate, da luta por salvar vidas. Felizmente que temos sempre essa dimensão positiva em todas as notícias, que podemos valorizar. O exercício é nosso, sem dúvida nenhuma, e é um desafio muito grande para os jornalistas não ampliar aquilo que é negativo.”
Como acontece todos os anos, a mensagem do Papa só vai ser conhecida esta terça-feira, 24 de Janeiro, dia de S. Francisco de Sales, que é o padroeiro dos jornalistas, mas quando o tema escolhido foi divulgado, em Setembro, foram já dadas algumas pistas.
A Secretaria da Comunicação da Santa Sé explicou que este é “um convite” a contar “a história do mundo e as histórias dos homens e das mulheres segundo a lógica da ‘boa notícia’”, mas fez também vários alertas. Por exemplo, para a “ignorância” de muitos profissionais em relação à “complexidade de muitos dos actuais dramas humanos”, e para o “adormecimento” ou “anestesia” dos média face aos lugares de pobreza e sofrimento.
Para o director da Ecclesia, a par do desafio de darem ”boas notícias”, os jornalistas não podem esquecer o dever que têm de denunciar injustiças e dar voz a quem sofre, ajudando à mudança: “É a melhor notícia que se pode dar, quando determinada situação era negativa e injusta, punha em causa os direitos das pessoas, e através do trabalho da comunicação social foi possível alterar essa situação. E felizmente há muitos casos destes que também passam pelos nossos noticiários.”
A audiência, o "clique", o "like"
Paulo Rocha reconhece que muitas vezes os média trabalham em função da pressão das audiências, dos “likes” nas redes sociais e dos “cliques” que cada notícia vale na internet, mas é preciso que certos assuntos não sejam abordados apenas “pela rama”.
“Tenho a sorte de trabalhar na agência Ecclesia, que é uma agência de notícias da Igreja Católica em Portugal, onde damos notícias sobre religião e muitos outros aspectos. Claro que nos interessa também chegar primeiro que o outro, temos de trabalhar para isso também, mas esse não é o critério único”, afirma.
Na Ecclesia, explica, dar “boas notícias” é uma preocupação permanente. “Temos de informar acerca daquilo que vai acontecendo e felizmente que o que vai acontecendo é muito de bom, seja directamente a partir de estruturas da Igreja, seja de grupos, informais ou não, que se preocupam por causas sociais e permitem que a sociedade se vá alterando”. E tentam ir além das posições e das vozes oficiais, dando também lugar “a quem no seu quotidiano é um autêntico testemunho do Evangelho”.
Sobre a comunicação na Igreja, Paulo Rocha considera que “o grande desafio que existe” é fazer “cada vez mais coisas em conjunto”. “Somos muitos comunicadores a passar boas notícias. Se formos partilhando aquilo que vamos fazendo, uns e outros, sem dúvida que vamos conseguir colocar na sociedade portuguesa esta marca do cristianismo que acaba por ser uma marca do nosso quotidiano”.
Esta entrevista foi transmitida no espaço das 12h00 na Renascença que, à segunda-feira, dá destaque às notícias de âmbito social e da vida da Igreja