​O poder das plataformas
07-12-2018 - 06:33

Num século em que a quantidade de conteúdos explodiu, quem manda não é o conteúdo mas sim a capacidade de organizar conteúdos.

Em 1996, Bill Gates escreveu a famosa frase (num artigo ainda hoje disponível na net), 'content is king'. Gates pode ser um grande visionário, mas neste caso o futuro não lhe deu razão: O custo de produzir conteúdos caiu drasticamente desde o princípio do século, pelo que a concorrência é feroz e os criadores de conteúdos, salvo raras excepções, não são propriamente reis.

Num século em que a quantidade de conteúdos explodiu, quem manda não é o conteúdo mas sim a capacidade de organizar conteúdos. Os motores de busca são um exemplo concreto: a Google não produz conteúdos, mas tem esta capacidade invulgar de me indicar os conteúdos que me interessam.

Um outro exemplo importante são as plataformas como a Facebook ou o Twitter, cujos algoritmos, tal como o algoritmo da Google, escolhem os conteúdos a que cada usuário é exposto. É verdade que o utilizador tem algo a dizer: por exemplo, decide que outros utilizadores quer seguir ou indicar com 'amigo'; mas cada vez mais a própria plataforma encarrega-se da tarefa de seleccionar conteúdos.

O poder da Google, Facebook, Twitter, etc, não se limita às informações que dispõem sobre os utilizadores. O poder das grandes plataformas reside também nesta capacidade quase única de organizar conteúdos, de forma que atraem milhões de utilizadores que, em certo sentido, não têm alternativa (isto é, alternativa com a mesma precisão na selecção de conteúdos).

Em certo sentido, é bom que haja alguma concentração de quotas de mercado no mundo das plataformas: quanto maior o número de utilizadores, maior a qualidade da selecção de conteúdos de cada plataforma. No entanto, o perigo é claro: mais do que as 'fake news', o que é preocupante neste admirável mundo novo é que a 'dieta' de conteúdos seja ditada por um número pequeno de 'players'.

Procuram-se soluções.