A União de Associações do Comércio e Serviços (UACS) manifestou esta quinta-feira apoio à sapataria histórica Deusa, na Baixa lisboeta, perante a situação de despejo, e estimou que já tenham encerrado mais de 150 estabelecimentos pré-selecionados como Lojas com História.
“A UACS estima que já tenham fechado mais de metade das lojas do núcleo das iniciais 300 pré-selecionadas pela autarquia para o programa Lojas com História”, indicou a união de associações da Região de Lisboa e Vale do Tejo.
Entre as lojas históricas de Lisboa que já fecharam portas, a UACS indicou a “Casa Frazão, Camisaria Pitta, Casa dos Carimbos, Casa Maciel, Alfaiataria Nunes Corrêa, Alfaiataria Picaddily, Livraria Portugal, Casa dos Panos, Drogaria S. Pereira Leão, Mercearia Casa Alves, Casa Pereira, entre outras”.
Em comunicado, a união de associações defendeu que devem ser discutidos “de forma mais célere” os processos de candidatura apresentados ao programa Lojas com História, promovido pela Câmara de Lisboa, no sentido de “conceder efetiva proteção aos estabelecimentos emblemáticos da cidade que mereçam ser distinguidos”.
Um dos principais objetivos da UACS, com 151 anos desde a sua fundação, é preservar e promover o comércio local e tradicional de Lisboa como “marca diferenciadora da cidade”, protegendo a sua integridade e autenticidade, através de medidas que potenciem o seu crescimento e que sejam geradoras de novos modelos de negócio e de emprego, para garantir “o continuar renovado de um setor com enorme valor na vida económica, social, cultural e na própria história da cidade”.
Prestando o maior apoio à sapataria Deusa, que foi despejada na quarta-feira depois de cerca de 70 anos de atividade, após uma decisão favorável ao senhorio, a união de associações informou que se encontra “a acompanhar atentamente, e com crescente preocupação, o impacto da pandemia na atividade empresarial, em particular no que respeita ao comércio da cidade de Lisboa”.
Acompanhado com especial enfoque a ordem de despejo da sapataria Deusa, a UACS referiu que, na passada sexta-feira, através do município de Lisboa, o atual proprietário (sócio e gerente da sociedade) do estabelecimento disse que “o arrendatário teria perdido o recurso para a renovação do seu contrato, protegido pelo programa da Câmara Municipal de Lisboa, Lojas com História”.
“Após a tentativa para reverter a situação de despejo, a mesma acabou por ocorrer no dia 16 de fevereiro [quarta-feira] por parte do proprietário, que levou ao local o seu advogado e o agente de execução acompanhados da polícia, depois de ter alterado a fechadura do local”, relatou a união de associações, explicando que tal aconteceu apesar de a sapataria Deusa (sociedade João Joaquim Neves, Lda) ser Loja com História desde 17 de outubro de 2019.
Segundo a UACS, o proprietário do estabelecimento realizou “todos os esforços possíveis legais” para travar o processo de despejo do imóvel arrendado na Baixa de Lisboa, mas “deparou-se com a decisão executada, encontrando-se a desenvolver uma providência cautelar e com recurso extraordinário”.
Na quarta-feira, a sapataria histórica Deusa foi despejada, após uma decisão favorável ao senhorio, que pretenderá fazer no local um hotel, disse na altura à Lusa o gerente do estabelecimento.
“Espero que não seja para sempre, mas hoje [quarta-feira] é um dia triste”, disse José Fiandeiro, salientando que, com o encerramento da loja histórica, ficam no desemprego ele próprio e dois funcionários, que ali trabalham “desde miúdos” e que agora têm idades entre os 58 e os 60 anos.
A sapataria Deusa, no número 9 da Rua 1.º de Dezembro, foi fundada em 1951 e vendia sapatos de senhora, sobretudo de fabrico nacional, mas depois da reestruturação passou a vender também marroquinaria e acessórios.
A loja tem um baixo-relevo em bronze de uma deusa hindu, explica o ‘site’ das Lojas com História. Além da Deusa propriamente dita, distinguem a loja cadeiras em cabedal branco, um sumptuoso candeeiro e a geometria das caixas de cartão perfeitamente alinhadas nas paredes, muito ao gosto dos anos de 1950.
“Todo o estabelecimento, a forma como a sapataria está construída, é arte que está ali”, disse José Fiandeiro, assegurando que vão ser feitos “os possíveis e os impossíveis para que ela volte a abrir”.