Dez óbitos por dia no Hospital de Évora. “Já não passa pelos hospitais, passa por cada um de nós”
28-01-2021 - 16:38
 • Rosário Silva

Com 200% da sua capacidade ocupada, o hospital eborense abriu hoje uma nova enfermaria covid, e projeta a abertura de mais duas, face ao previsivel agravamento da situação.

O Hospital do Espirito Santo de Évora (HESE) regista, desde dezembro de 2020, uma “mortalidade extraordinariamente elevada”, com uma média, por dia, de uma dezena de óbitos.

O número fooi revelado esta quinta-feira, pela presidente do Conselho da Administração (CA) da unidade, na abertura de mais uma enfermaria, a Covid 5, com 10 novas camas.

“A mortalidade tem sido extraordinariamente elevada. Nós estamos a ter nas ultimas semanas cerca de 1/3 de mortalidade na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), 1/4 da mortalidade nas enfermarias e uma mortalidade muito elevada no Serviço de Urgência”, revelou, aos jornalistas, Maria Filomena Mendes.

“Para dar a ideia do agravamento da mortalidade no mês de dezembro e, em particular, neste mês de janeiro”, indica a responsável, “temos tido no hospital um valor de cerca de 10 óbitos por dia, o que representa um acréscimo de mortalidade, comparativamente com o período homologo, de 111%”.

Neste momento, sem contar com os 10 doentes do Serviço de Psiquiatria, entretanto transformado em ala covid e onde existe um surto, o hospital atingiu a sua capacidade máxima de internamento.

“Estamos com 200% da nossa capacidade já ocupada, o que significa que andamos à volta dos 100 doentes internados”, complementa Maria Filomena Mendes.

Em UCI, as 13 camas estão ocupadas, mas há margem para aumentar se houver necessidade. O problema reside, contudo, na falta recursos humanos especializados.

“Nos cuidados intensivos, os médicos e os enfermeiros tem de ter uma especialização muito diferenciada”, por isso “estamos a tentar encontrar os recursos para que não deixemos ninguém sem estes cuidados”, garante a presidente do CA, acrescentando que o HESE está a fazer tudo o que pode e não pode para travar uma situação que tem tendência a agravar-se nos próximos dias.

“O hospital está a fazer o possível e o impossível, sendo necessário, agora, que cada uma das pessoas possa tentar perceber o que pode fazer pelo seu hospital”, nota, para sublinhar que se espera um número mais alto de doentes.

“Nós estamos a receber agora os doentes de há uma, duas, três semanas, o que significa que nas próximas semanas vamos ter uma pressão ainda maior, o que nos leva a preparar já mais duas enfermarias dentro do hospital, mais 60 camas, para podermos dar resposta e também reforçar a Estrutura Municipal de Apoio com mais camas”, anuncia.

“Não é possível continuar a escalar desta maneira”, considera Filomena Mendes, admitindo, ao mesmo tempo, que “os profissionais não conseguem dar resposta e isso está a deixá-los cada vez mais em maior sofrimento.”

Em jeito de apelo, a presidente do hospital alentejano afirma que “só podemos travar esta situação, se cada um fizer o melhor que pode.”

“Já não passa pelos hospitais”, assegura, “passa por cada um de nós”.

As declarações aos jornalistas foram proferidas na abertura de mais uma enfermaria, a Covid 5, com mais 10 camas, quatro das quais já ocupadas.

Este projeto nasceu como resposta a uma necessidade: a de levar conforto a todos os que mais precisam, com a finalidade de contribuir e ajudar através dos materiais necessários, para providenciar mais qualidade de vida às pessoas.

Coordenado pela Fundação São João de Deus e pela associação Parceiros Microsoft em Portugal, o Aconchegar conta, também, com um elevado número de embaixadores do setor empresarial e da sociedade civil que contribuem para ajudar a equipar as Estruturas de Apoio de Retaguarda, assim como os hospitais.