As notícias incidem, em geral, mais sobre aquilo que preocupa e revolta do que sobre aquilo que tranquiliza e apraz. ‘Boas notícias não são notícia’ é, de facto, ditado antigo. Mas quando a marcha de uma sociedade é fértil em acontecimentos de carga negativa ou o olhar de quem os relata tende a ver e a puxar apenas pelo lado negro, não é de admirar que isso provoque ansiedade nas pessoas e redunde em cansaço e afastamento.
A verdade é que, em geral, as notícias portadoras de violência, ameaça e alarme continuam a vender e a fazer audiências.
A devastação dos grandes incêndios em Portugal representou uma tragédia inqualificável, não apenas pela destruição extensiva da floresta, o que já seria grave, mas pelas mortes de mais de uma centena de pessoas, o que é inaceitável. Em texto, som e imagem, muitos repórteres fizeram um trabalho notável quer do acontecer e evoluir dos focos de incêndio quer dos da destruição provocada e das situações-limite vividas em muitos lados. Salvo casos de manifesto exagero, esse trabalho foi e é fundamental. A questão, porém, é se o jornalismo se deve ficar por aí. Se não há, a partir daqui, um “rescaldo” a fazer e um dever de acompanhamento sistemático da situação no terreno, até para verificar se efectivamente as medidas curativas e preventivas, entretanto anunciadas, estão a (ou vão) de facto a ser postas em prática.
A tentação de um certo jornalismo de vistas curtas poderá ser virar os focos para outros lados, até porque a fase da reconstrução não fornece imagens impactantes. E, no entanto, como se recordava na semana passada, numa conferência promovida pela RTP sobre “jornalismo e serviço público na era digital”, falta ainda responder a uma pergunta: E agora? Que pode e deve ser feito para enfrentar a situação gerada pela tragédia? Que está de facto a ser feito e com que resultados? Onde estão os recursos, as energias ou os entraves?
As responsabilidades do jornalismo para com a comunidade não terminam com a cobertura. Quando toda a sociedade – desde os directamente afectados até quem tem responsabilidades políticas – está a recomeçar a vida e a aplicar medidas para prevenir que a catástrofe se repita e para cuidar dos mais abandonados do país, o jornalismo e os jornalistas não podem estar ausentes. O jornalismo em si não tem de ser positivo ou negativo. Mas pode e deve assumir um papel construtivo, feito de presença, atenção e escrutínio no tereno.