David Justino. Provas de aferição não permitem fazer ranking das escolas
08-06-2016 - 04:18

Em entrevista à Renascença, o presidente do Conselho Nacional de Educação afirma que reduzir o número de alunos por turma e “continuar a ensinar da mesma maneira não resolve problema nenhum”.

Com as novas provas de aferição, que não contam para a avaliação dos alunos, deixa de ser possível comparar resultados, ou seja, os chamados ranking das piores e das melhores escolas, afirma o presidente do Conselho Nacional de Educação em entrevista ao programa “Terça à Noite da Renascença.

“Não vai ser comparável, porque a informação vai ser fornecida ao aluno e à escola”, começa por referir David Justino.

“É uma informação de carácter descritivo, não codificada sob a forma de quaisquer símbolos, escalões ou de números. Vai ser uma avaliação descritiva, pelo menos é isso que está no diploma. Vai ser dada uma indicação de carácter qualitativo sobre a avaliação que é feita, portanto, faz-se uma avaliação, não se faz uma classificação”, sublinha o antigo ministro da Educação.

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, substituiu os exames do 4.º e 6.º anos por provas de aferição no 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade, que não contam para a nota e têm como objectivo aferir os pontos fortes e fracos dos alunos.

O presidente do Conselho Nacional de Educação sublinha que estas mudanças no sector do ensino dificultam um diagnóstico mais fino dos problemas.

“Sou capaz de identificar a olho nu se uma pessoa está em estado febril ou não, mas eu não sei qual é a febre que tem nem o problema que está a gerar a febre. Não podemos mandar o termómetro embora. Temos uma observação que não vai ser susceptível de ser quantificada e não sendo quantificada não permite ser comparável”, afirma David Justino

“A mera redução do número de alunos por turma não resolve o problema”

O PS e os partidos de esquerda que suportam o Governo querem reduzir o número de alunos por turma, que foi aumentado pelo anterior ministro Nuno Crato.

Mas David Justino defende que não “a mera redução do número de alunos por turma não resolve o problema”.

“Vamos admitir que eu tenho uma turma de 30 alunos. Se reduzir de 30 para 28 ou 26, mas continuar a ensinar da mesma maneira eu não vou resolver problema nenhum”, sustenta no “Terça à Noite” da Renascença.

O antigo ministro da Educação considera que o ideal é dar liberdade às escolas para aumentar ou diminuir o número de alunos por turma conforme as necessidades e os problemas dos alunos.

Esta é uma das conclusões do parecer que o Conselho Nacional de Educação vai apresentar sobre combate ao insucesso, revela David Justino sobre o estudo que vai ser discutido esta quarta-feira.

O responsável diz que a maior parte das escolas que têm turmas com muitos alunos são aquelas que são mais procuradas pelos pais, exactamente por que têm bons resultados.

“Porque é que grande parte das turmas têm 30 alunos ou, às vezes, 31 ou 32 e isso não se reflecte nos resultados, porque as escolas que são obrigadas a levar o número de alunos por turma até aos máximos são as mais procuradas, algumas têm listas de espera porque têm bons resultados. A pressão dos pais para pôr lá os filhos é muito grande e os directores são obrigados a levar isso até aos limites”, conclui o presidente do Conselho Nacional de Educação em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.