Irão abate drone americano e diz estar "pronto para a guerra". Trump reage: "Cometeram um erro muito grande"
20-06-2019 - 16:21
 • Renascença com Lusa

Incidente ocorre num contexto de crescente tensão entre o Irão e os EUA, isto depois de na semana passada dois petroleiros terem sido alvo de ataques no estreito de Ormuz. Putin avisa americanos para consequências do uso da força contra Teerão.

Os Estados Unidos confirmaram esta quinta-feira que um drone, pequeno avião não tripulado, da Marinha americana foi abatido pelo Irão. Segundo um comunicado do Pentágono, o drone de vigilância da Marinha americana foi abatido quando se encontrava em “espaço aéreo internacional”.

De acordo com os responsáveis pela Defesa americana, “as informações iranianas segundo as quais o engenho aéreo sobrevoava o Irão são falsas”.

O comunicado refere que o “drone de vigilância marítima RQ-4A Global Hawk”, fabricado pela empresa norte-americana Northrop Grumman, foi “abatido”, esta madrugada, “por um sistema antiaéreo de mísseis terra-ar iraniano, quando operava em espaço aéreo internacional, sobre o estreito de Ormuz”. Portanto, consideram, a reação do Irão foi “injustificada”.

Os Guardas da Revolução iranianos anunciaram hoje terem abatido um drone americano, alegando que este estava a violar o espaço aéreo iraniano no Sul do país. De acordo com a Press TV, o canal de informação em inglês da televisão estatal iraniana, o drone "foi abatido pela força aérea" iraniana, na província costeira de Hormozgan. A televisão estatal não forneceu, contudo, imagens do drone abatido.

O comandante dos Guardas da Revolução, general Qassem Soleimani, disse que o Irão “não tem qualquer intenção” de entrar em conflito com outra nação do mundo, mas garantiu que o país “está pronto para a guerra”.

Entretanto, no Twitter, o Presidente americano, Donald Trump, reagiu ao abate do drone e, numa curta mensagem na rede social, afirmou somente que o Irão “cometeu um erro muito grande”.

Este incidente ocorre num contexto de crescente tensão entre o Irão e os Estados Unidos e depois de, na passada quinta-feira, dois petroleiros, um norueguês e um japonês, terem sido alvo de ataques no estreito de Ormuz. O Irão negou qualquer envolvimento nos ataques e sugeriu que podia tratar-se de um golpe dos EUA para justificar o uso da força contra a república islâmica.

Na segunda-feira, os países-membros da União Europeia mostraram-se prudentes na atribuição de responsabilidades sobre os ataques no golfo de Omã, recusando-se a alinhar nas culpas atribuídas a Teerão por Estados Unidos, Reino Unido e Arábia Saudita, rival regional do Irão. A Alta Representante para a Política Externa e de Segurança Comum da UE, Federica Mogherini, admitiu a preocupação do bloco “com o risco de derrapagem" nas relações entre EUA e Irão.

O diferendo entre os Estados Unidos e o Irão é longo e a crispação está a aumentar desde que o Presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos, há um ano, do acordo nuclear internacional assinado, em 2015, entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança – Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China –, mais a Alemanha, e o Irão, restaurando sanções devastadoras para a economia iraniana.

Rússia avisa EUA para consequências do uso da força contra Irão

O Presidente russo, Vladimir Putin, comentou hoje o caso do drone americano abatido pela força aérea iraniana, avisando os Estados Unidos para as consequências do uso da força contra o Irão. Na habitual sessão televisiva anual, em que responde a perguntas do público em direto, Putin disse que uma intervenção militar dos EUA contra o Irão desencadearia uma escalada nas hostilidades, com resultados imprevisíveis.

Para Putin, tal significaria, “no mínimo, uma catástrofe para a região”. O Presidente russo destacou ainda que o Irão aguentou os termos do acordo nuclear, apesar da retirada unilateral dos Estados Unidos, considerando que as sanções americanas contra Teerão são infundadas.

Hoje, na já referida sessão televisiva, o Presidente russo disse ainda estar disponível para se reunir com Donald Trump, ainda que frisando não acreditar num aliviar da tensão entre Moscovo e Washington. Trump já disse que se reunirá com Putin à margem do encontro do G-20 em Osaca, Japão, na próxima semana, mas ainda não pediu formalmente um encontro.

“O diálogo é sempre bom e necessário”, comentou Putin. “Se a parte Americana mostrar interesse nisso, estamos naturalmente disponíveis para o diálogo, tanto quanto estejam os nossos parceiros”, acrescentou.

Rússia e Estados Unidos devem focar-se no controlo de armas, defendeu Putin, antecipando que, à aproximação das eleições presidenciais americanas, as relações entre as duas potências “não serão fáceis”. Refutando as acusações de interferência russa para favorecer a eleição de Donald Trump nas últimas eleições americanas, em 2016, Putin reconheceu, ao contrário, que a reeleição do atual presidente dos EUA tornará o aliviar da tensão entre os dois países menos provável.