O custo do Brexit sem acordo
01-12-2018 - 09:52

Em referendo, os britânicos decidiram sair da UE. Mas, ao votarem, não perceberam os custos que tal saída iria provocar.

O Brexit terá custos. Mais para os britânicos do que para os países que permanecem na UE. Este texto trata apenas dos primeiros, os custos para o Reino Unido.

Segundo estimativas do próprio Governo britânico, esta semana divulgadas, a saída do Reino Unido da Europa comunitária terá efeitos negativos para a economia deste país.

Concretizando-se o Brexit segundo o “acordo de divórcio” negociado por T. May (e que tem fortes probabilidades de não ser aprovado na Câmara dos Comuns no próximo dia 11 de dezembro) a economia britânica perderá quase 4% do PIB ao longo dos quinze anos após a saída,

Mas se tal saída for sem acordo – o tal “hard Brexit” – o prejuízo económico para o Reino Unidos será bem maior: 9.3% naqueles quinze anos, cerca de 170 mil milhões de euros. Poderá ser ainda bem pior, se o caos se instalar nas fronteiras que passarão a existir entre o Reino Unido e a UE, logo depois do dia 29 de março de 2019. O Banco de Inglaterra avisou que uma saída da UE sem acordo poderá colocar a economia britânica na pior recessão desde a II guerra mundial.

Segundo um outro estudo, este da London School of Economics e outras instituições, o PIB britânico recuará 5.5% em dez anos, com acordo, e 8.7% sem acordo. O PIB por cabeça diminuirá mais de 1,5% numa década com o acordo que T. May e os 27 da UE assinaram em Bruxelas no passado domingo; e cairá quase 3,5% caso não haja acordo.

No imediato, risco de caos

As perspetivas imediatas de um Brexit sem acordo de divórcio são simplesmente assustadoras. Não é por acaso que, prevenindo o caso de um Brexit sem acordo, as autoridades britânicas estão a aconselhar a população a armazenar medicamentos e bens alimentares importados da UE.

A Associação Britânica de Indústria Farmacêutica revelou que, desde julho, procura aumentar os “stocks” de medicamentos. Mas não encontra um número suficiente de armazéns climatizados para medicamentos que necessitam de ser mantidos em temperatura constante.

Como escreveu o semanário “The Economist”, uma saída sem acordo significará a rotura de todo um enorme conjunto de regras comunitárias. “A Grã-Bretanha ficará sem normas para regulamentar o comércio de materiais radioativos, o comércio nos mercados internacionais de eletricidade, o ‘clearing’ financeiro, a aviação comercial, a regulação de medicamentos, o controle da imigração e muitos mais”. E poderá referir-se, ainda, as regras de segurança alimentar, as que regulam a passagem de animais vivos nas fronteiras, etc.

O “Economist” conclui: “aquilo que alguns defensores do Brexit descrevem como ‘uma saída limpa’ da Europa tornar-se-á, de facto, numa horrível confusão”.

Por exemplo, em Dover, onde diariamente passam cerca de dez mil grandes camionetes de mercadorias, haverá engarrafamentos enormes, atrasando a entrada e a saída dos mais variados bens. A Confederação da Indústria Britânica calcula que as exportações da UE (incluindo de Portugal, claro) para o Reino Unido subam entre 5 e 7% de preço no dia seguinte a uma saída britânica sem acordo, por causa dos novos direitos alfandegários.

Na Grã-Bretanha as empresas produtoras de automóveis serão das mais prejudicadas, num sector que emprega mais de um milhão de pessoas. O problema não é apenas o travão que as barreiras aduaneiras representarão na exportação de carros; é, sobretudo, a quebra nas cadeias de fornecedores, que em geral implicam trocas permanentes entre o Reino Unido e a UE.

Incerteza para os migrantes

Um Brexit sem acordo de divórcio colocará na maior incerteza os imigrantes no Reino Unido provenientes da UE, bem como os britânicos que vivem em território comunitário, como o Algarve. O número de portugueses que emigram para o Reino Unido abranda desde o referendo de 2016, que apoiou o Brexit, naturalmente por causa da incerteza então criada.

Hoje estima-se que viva e trabalhe naquele país perto de meio milhão de portugueses. Muitos deles tentam, agora, adquirir também a nacionalidade britânica, para se defenderem de imprevistos, como será um Brexit sem acordo. Mas apenas uma minoria deverá conseguir a nacionalidade britânica.

A livre circulação de pessoas cessará de imediato após um Brexit sem acordo. Mesmo tendo presente que o Reino Unido não faz parte do acordo de Schengen (que elimina fronteiras), é toda uma nova situação que surgirá.

A eventual mudança ainda não é clara, mas afetará, por exemplo, os estudantes universitários estrangeiros, provenientes da UE, que se encontram em território britânico. Ficará mais complicada a sua situação académica bem como se tornarão problemáticas as suas perspetivas profissionais naquele país.

E, “last but not least”, um Brexit sem acordo automaticamente irá repor a fronteira entre a República da Irlanda e o Ulster (Irlanda do Norte). Pondo em grave risco o acordo de paz celebrado na sexta-feira santa de 1998 entre católicos e protestantes.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus