O fundador da Associação de Judo do distrito da Guarda corre todos os dias, aos 81 anos de vida, mais de 20 quilómetros pelas encostas da Serra da Estrela. Caetano Pereira acorda as seis da manhã e às 7h00 arranca sem destino. Todos os anos vai a Fátima a pé e só lamenta este ano perder a meia maratona de Lisboa por causa do coronavírus.
“Defendo mais a medicina preventiva do que a curativa”, começa por afirmar Caetano Pereira. “Está-se a fazer muito alarme em torno do coronavírus e estão a deixar todos aflitos, mas aqui na Serra estou em paz, o que interessa é a capacidade do sistema imunitário”, realça.
Caetano tem no seu currículo a criação da Associação de Judo do Distrito da Guarda em 1998, tendo ainda ajudado a lançar a modalidade em Gouveia e no Sabugal. “Durante 17 anos foi a minha ocupação principal. Em Lisboa, por exemplo, no Ginásio Clube Português dei aulas durante muitos anos. Fui tesoureiro da federação portuguesa de Judo e campeão ibérico de Katas há três anos, (uma espécie de judo que não é tão violento e onde tem de haver coordenação perfeita entre os dois parceiros. Fui eu que criei o judo no distrito da Guarda”, sublinha. “As cores do cinto identificam os conhecimentos do atleta, o máximo: foi o vermelho e o branco que tive”, refere sem esconder o orgulho.
Apresentação feita, Caetano não quer perder mais tempo na entrevista. Há uma corrida para começar, mas antes o aquecimento. “Afastamento lateral das pernas e braços, agora elevação superior dos braços lá em cima”, indica com o jeito de quem toda a vida foi professor de judo e responsável pela implementação da modalidade no distrito da Guarda.
São 81 anos de vida e de genica que todos os dias correm mais de 20 quilómetros pela Serra da Estrela. “Parece que não é verdade, mas é”, garante Caetano Pereira que se apressa a explicar a rotina dos dias. “Levanto-me às 6 da manhã e para conseguir fazer a meia maratona de Lisboa tenho de fazer pelo menos 24K diariamente, o carro fica na garagem”, remata. E cuidados com a alimentação? “Não tenho cuidados nenhuns, não bebo sumos, bebo um copo de vinho que tem glicose, que vai diretamente para o sangue e não precisa passar pelo fígado para ser transformada”, explica o homem que foi professor, bancário e lutou na Guerra do Ultramar em Angola. “Desde essa altura nunca mais tomei um comprimido, tive depois cancro da próstata aos 60 anos, mas sinto-me bem, no entanto recorda: “cai um prédio em cima de uma pessoa, quando nos dizem que temos cancro”.
Pelo caminho da corrida, Caetano Pereira vai ouvindo uns piropos às pernas musculadas. “Passam por mim e metem o dedo na boca e não sei o que aquilo quer dizer, mas algumas dizem-me mesmo que tenho boas pernas”, revela. Quem passa por Caetano Pereira não esconde a admiração.
Eduardo Tavares, 40 anos, vê no colega de corridas um exemplo. “Ele vai comigo a pé a Fátima, faz tudo igual a mim que tenho 40 anos. Toda a gente que passa por nós questiona. Desde 2008 que vai comigo a Fátima, fazemos 40K por dia e toda a gente que passa por nós fica admirada” revela, interrompido por Caetano. “Enquanto o criador me der pernas para andar, não deixo de correr”.
Com 27 meias maratonas de Lisboa controladas. Milhares de quilómetros nas pernas e dezenas de medalhas ao pescoço, aos 81 anos de vida, Caetano Pereira tem argumentos para afirmar que se vai sempre a tempo de mudar de estilo de vida. “O Carlos Lopes foi campeão olímpico aos 40 anos, mas não podem é levar a atividade física como uma brincadeira”, conclui.