​Preocupações com a China
11-06-2019 - 06:47

O ministro dos Negócios Estrangeiros respondeu a dúvidas e críticas quanto às relações económicas de Portugal com a China. É uma iniciativa de saudar.

A economia portuguesa tem falta de capital. Durante o período da “troika” esse problema agravou-se. O capital chinês aliviou o problema, entrando em sectores como a energia, a banca, a saúde, os seguros, etc. Mas o investimento chinês trouxe também preocupações, uma vez que as empresas da China –mesmo as privadas – têm que obedecer às orientações do partido comunista chinês.

Os receios acentuaram-se quando Portugal foi um dos 13 países da UE a formalizar a cooperação com a grande iniciativa chinesa, lançada em 2013 – a Faixa e Rota, ou nova Rota da Seda. Por outro lado, Trump pretende impor sanções a quem negociar com a Huawei, uma grande empresa chinesa de telemóveis, pioneira na chamada quinta geração de “smartphones”. Portugal, como outros países europeus, não aceitou as imposições de Trump.

Para responder às preocupações nacionais em relação aos negócios com a China, Augusto Santos Silva (ASS), ministro dos Negócios Estrangeiros, escreveu um longo artigo no “Público” de domingo. É de saudar a iniciativa, pois os portugueses têm o direito de conhecer a política externa do país – mas a tradição nacional nem sempre reconheceu essa exigência.

Basicamente, ASS diz duas coisas. A primeira é que a nossa relação com um país da dimensão da China é necessária e útil. E assegura que no quadro da UE foram tomadas medidas para garantir a soberania e a segurança nas relações económicas com a China, que Portugal segue com rigor. Por outro lado, ASS lembra que o nosso país tem uma aproximação histórica à China a um nível que poucos dos seus aliados e europeus alcançaram.

Macau tem sido um exemplo de boa cooperação luso-chinesa. Mas nunca poderia acontecer ali uma enorme manifestação como aquela que se realizou em Hong Kong no passado domingo, contra um projeto de lei que prevê enviar suspeitos para a China. Soube-se ontem que Macau aprovou uma lei que prevê três anos de prisão para quem difundir “notícias tendenciosas”. Ninguém espera uma manifestação dos habitantes da Macau.

Há que reconhecer que Portugal jamais mandou, de facto, em Macau, nem quando o nosso país era governado por uma ditadura. Mandava realmente o poder político chinês. Por isso nunca Macau teve um governador como o britânico Chris Patten, último governador de Hong Kong, que lutou pela manutenção de direitos civis e políticos naquele território. Nem existem em Macau visíveis ambições democráticas.

No seu artigo, ASS não tem ilusões quanto à atitude chinesa de desprezo pelas liberdades e pelos direitos humanos, mas promete não transigir nessa área. Infelizmente, um outro assunto (que nada tem a ver com a China) não ajuda ao otimismo nesta matéria. Trata-se de a Guiné Equatorial, uma ditadura que desgraçadamente é membro da CPLP, ter mais uma vez recuado na prometida abolição da pena de morte. Há cinco anos na CPLP, por pressão do Brasil e de Angola, a Guiné Equatorial diz agora que “é preciso amadurecer a questão”...